Comentei, em três postagens, os quase dez minutos do acesso de fúria com que Olavo de Carvalho me brindou no True Outspeak (The Real Talkshit) de 25 de julho, como resposta à minha matéria Imposturas de Olavo de Carvalho, editada dezenove dias antes. Sem muito espanto, vejo agora que mereci também um revide por escrito, via Mídia sem Máscara, o exótico site de direita em que se reúnem adeptos de variadas teorias da conspiração. Ali aprendemos, por exemplo, que Karl Marx, após mergulhar no satanismo, escureceu, engordou e criou pelos em todas as partes do corpo:
http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/13281-criando-uma-celebridade.html
Logo no primeiro parágrafo, me deparo com um dos recursos prediletos do astrólogo que se tornou dublê de cientista político: o uso de dados inflados para mobilizar emocionalmente sua plateia. Olavo alega que escrevi 120 laudas contra ele! Faço um breve inventário: em Imposturas, são 14 parágrafos e a transcrição da fala criticada, que é curta; nas três tréplicas juntas, mais 40 parágrafos, excluindo as réplicas do dito cujo; nas duas postagens intituladas Balelas de Olavo de Carvalho, outros 26 parágrafos, fora a colagem de trechos escaneados de livros que emprego para ilustrar os desastres do pretenso guru no campo da História, mas que evidentemente não podem ser contabilizados como produtos da minha mente. Nada mais, ainda que não possa negar a razão de quem vier a me repreender por tamanho desperdício de tempo com personagem tão raramente levado a sério. Pensando bem, como Olavo já decretou que Isaac Newton era uma besta, talvez tenha estudado metodologias de cálculo inacessíveis aos pobres mortais, conseguindo de fato gastar as pobres 70 páginas de A4. Mudemos de assunto, portanto.
Olavo me concede o título de historiador numa perspectiva "generosa e elástica". Devo admitir, sem polêmica, que não sou um Ciro Flamarion Cardoso. Porém, bem ou mal, tive dois projetos de pesquisa vistos positivamente pela academia, que me levaram ao mestrado e ao doutorado (este ainda em curso) na Universidade Federal Fluminense. Na pior das hipóteses, posso informar que qualquer diplomado em História é historiador, pouco importando sua projeção midiática. Porém, utilizando um critério comparativo, não teria do que me envergonhar diante de um filósofo sem diploma de Filosofia, cuja "excelência" é atestada, de preferência, nos comentários das orelhas dos livros que escreve ou em tópicos da comunidade virtual que seus amigos construíram para enaltecê-lo. Que contribuição traz Olavo ao campo filosófico, além do expediente de encerrar monólogos com frases de impacto no estilo "vá chupar uma piroca"?
Não obstante o fato de jamais ter ultrapassado o nível de colunista de segunda linha de alguns jornais, servindo também eventualmente como foco de curiosidade sociológica em matérias de semanários sobre intelectuais de extrema direita, Olavo de Carvalho, ao aludir à minha falta de notoriedade, atribui a si mesmo os meus poucos minutos de fama. O acesso de megalomania, nada incomum para quem se considera o autêntico líder da direita brasileira, sem ter concorrido a uma mera vereança no interior paulista em que nasceu, impede o auto-exilado de perceber sua total irrelevância fora da Internet, na qual, sejamos justos, logrou fundar uma espécie de seita, formada por seguidores que o defendem furiosamente, em regra com os mesmos impropérios do líder.
Ainda mais pretensiosamente, Olavo reivindica o duvidoso privilégio de monopolizar o rancor de cinco mil pessoas, alistadas na comunidade orkutiana Olavo de Carvalho nos Odeia, entre as quais me incluo. Joga com o provável desconhecimento da maioria, ao dizer que ali se vomitam toneladas diárias de "queixas e ranzinzices" contra ele. A citada comunidade, atualmente bastante esvaziada pela decadência do Orkut, sempre foi basicamente humorística: as postagens, em regra, se referem a aspectos caricatos da figura e da pregação de Olavo ou de muitos outros direitistas. Sobre os enredos que o filósofo cria, vendo em mim uma espécie de estudante que descobriu a pólvora e difunde a fórmula aos quatro ventos, ao invés de retrucar talvez eu precise lhe agradecer por avaliar muito por baixo a minha idade. Porém, quanto às tendências suicidas, não preciso lembrar quem tosse on line milhares de vezes por ano. Produzir este blog é muito mais um prazer do que uma alternativa à morte pelo 38 que nem tenho na gaveta.
Deixando as vaidades de lado, observemos algo de maior importância. Olavo protesta contra a prática, adotada por diversos "detratores", de coletar informações isoladas de seus textos para desconstruir a validade das mesmas. Com chocante sinceridade, ele expõe que, nestes casos, "apenas espalho ideias entre o público geral sem o menor intuito de prová-las, quanto mais de validá-las até seus últimos detalhes no confronto com argumentos opostos".
Imaginemos uma situação simétrica: um determinado articulista antiamericano, desejando insuflar seus leitores contra o "Grande Satã", começa a descrever bombardeios de áreas civis por aviões dos EUA ocorridos durante a Guerra do Vietnã; numa certa altura, resolve contar que "os americanos mataram dez milhões de vietnamitas, trinta vezes mais do que os russos mataram no Afeganistão"! Não acredito, em absoluto, que Olavo de Carvalho classifique a sentença como uma inocente peça de propaganda. Faria em alto e bom som uma proclamação contra a desonestidade, muito embora não aceite a recíproca.
Quando Olavo grava um vídeo no qual "revela" que 90% dos escravos do Islã eram castrados, ou que os muçulmanos escravizaram três (ou cinco) vezes mais gente do que os ocidentais, sabe que não guarda o menor compromisso com a verdade. Mas sabe ainda melhor que tais afirmativas serão repetidas sem filtro por centenas de conservadores fanáticos, que nele creem como se fosse o mais infalível dos profetas. Contudo, para que se preocupar com a precisão, se cumpre à risca o objetivo, firmado com seus patrões, que certamente não são os incautos que depositam caraminguás numa conta do Bradesco, de apresentar islâmicos, militantes negros, gays, feministas, ecologistas e comunistas como inimigos coligados da humanidade?
Como já declarei antes, Olavo possui o direito humano inquestionável de ficar com raivinhas ao se ver apanhado em chutes e contradições, mas não deveria recusar a um historiador o direito de apontar balelas "históricas", quando algumas das falácias publicadas no Mídia sem Máscara e em sua página pessoal irritariam até autores de telenovelas de época.
Como já declarei antes, Olavo possui o direito humano inquestionável de ficar com raivinhas ao se ver apanhado em chutes e contradições, mas não deveria recusar a um historiador o direito de apontar balelas "históricas", quando algumas das falácias publicadas no Mídia sem Máscara e em sua página pessoal irritariam até autores de telenovelas de época.
Causa riso, sem dúvida, observar Olavo em seus delírios de aprendiz de psicólogo. Divirto-me, em particular, ao ler que "O que define a falsificação histérica da realidade é que o sujeito não sente como real aquilo que vive, mas aquilo que imagina". Que diremos, então, de O. de C., que há cinco dias, em programa de rádio, rotulou o jornalista cristão libanês Amin Maalouf de "mero propagandista da revolução islâmica" e saudou o historiador Manolo Florentino por suas "pesquisas sobre a escravidão na Bahia", quando a obra de Florentino se refere basicamente ao Rio de Janeiro? Merece ser absolvido, visto que "imagina" somente o que favorece a consolidação das ideias que quer espalhar?
Para concluir, registro o quanto também é engraçado ver expressões como "chavão dos anos 60" virem do teclado de alguém que se dedica, essencialmente, a requentar a pizza macarthista dos anos 50, apenas acrescentando novos espantalhos. Mais cômico ainda é vê-lo prometer uma série a meu respeito apesar da minha insignificância.
Para concluir, registro o quanto também é engraçado ver expressões como "chavão dos anos 60" virem do teclado de alguém que se dedica, essencialmente, a requentar a pizza macarthista dos anos 50, apenas acrescentando novos espantalhos. Mais cômico ainda é vê-lo prometer uma série a meu respeito apesar da minha insignificância.