tag:blogger.com,1999:blog-1463973047255826919.post4031361173881227359..comments2024-01-15T23:52:00.195-03:00Comments on História & Política: O racismo brasileiro segundo... Gilberto FreyreGustavo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/10817279058761189885noreply@blogger.comBlogger5125tag:blogger.com,1999:blog-1463973047255826919.post-43140694080191971892014-05-25T11:26:02.789-03:002014-05-25T11:26:02.789-03:00Me parece incorreto continuar afirmando que Gilber...Me parece incorreto continuar afirmando que Gilberto Freyre não escreveu sobre democracia racial. Ele como sua perspicácia intelectual sabia que qualquer afirmação com tendência para o absoluto nasceria fragilizada no âmbito do entendimento das questões humanas. Gustavo Moreira demonstra saber disso ao referir-se a ambiguidade com que Freyre tratou a questão. Freyre tomava o cuidado em não afirmar a existência em absoluto da democracia racial, mas sim como uma projeção, uma inclinação, um ideal que nos distinguia, por exemplo, do EUA, devido, sobretudo, pela herança portuguesa das relações raciais em sua plasticidade e abertura para o outro. A defesa cuidadosa da democracia racial ou étnica está por exemplo no discurso proferido na Câmara dos Deputados em 1950: "Contra o preconceito de raça no Brasil"; e em ensaio escrito por solicitação da ONU em 1966: "Mistura de raças e interpenetração cultural: o exemplo brasileiro". Inclusive neste ensaio Freyre expõe uma informação pessoal que vai de encontro ao interesse sobre os casamentos inter-raciais que foi publicado nesta postagem. Freyre relata ter recebido carta de uma jovem negra estadunidense que admirada com seus escritos sobre os negros insinua que ele deveria casar com uma moça como ela, o que não seria possível pela tradição familiar do "mestre de apicucos":<br />"Posso acrescentar que ainda por cima era bonita, a julgar pela fotografia que acompanhava a carta. No entanto, por tradição endógamo, eu não teria desposado uma moça negra dos Estados Unidos, da África ou mesmo do Brasil, e isto pela mesma razão por que eu não casaria com uma escandinava nem, no Brasil, com brasileira com nível de educação social muito diferente do meu."Allysson Garciahttps://www.blogger.com/profile/16695348703897943996noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1463973047255826919.post-56011717692286269922014-03-14T13:40:28.242-03:002014-03-14T13:40:28.242-03:00"O senso comum prefere a ideia, "wishful..."O senso comum prefere a ideia, "wishful thinking", de que os povos tropicais são dados à sensualidade e pouco inclinados à violência e ao racismo, já que preferem comer, beber, dançar e fazer amor ao invés da guerra."<br /><br />Exato. Mas para que serviriam os profissionais das Ciências Humanas se abrissem mão de contestar o senso comum?<br /><br />Obs: Seu primeiro comentário desapareceu, embora conste como publicado nas estatísticas do blog.Gustavo Moreirahttps://www.blogger.com/profile/10817279058761189885noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1463973047255826919.post-4477391872804461002014-03-14T13:35:56.611-03:002014-03-14T13:35:56.611-03:00Alguns reparos:
.Eu não diria que a miscigenação t...Alguns reparos:<br />.Eu não diria que a miscigenação torna obrigatoriamente o racismo difuso. A colonização da região do Cabo da Boa Esperança gerou uma população essencialmente mestiça, com a contribuição de holandeses, alemães e franceses protestantes, hotentotes, bantos, indonésios, malaios, malgaxes, indianos, árabes. Entretanto, ali pôde ser estabelecido um forte sistema de segregação. Com relação aos Estados Unidos e sua discriminação institucional, poderíamos lembrar que o próprio Gilberto Freyre afirmou, em Casa Grande & Senzala, que para nós brasileiros 80% dos negros americanos seriam mulatos. <br />.Sem dúvida a posição de tomar cada brasileiro como resultado de uma sucessão de estupros tem algo de caricato. Porém, não é aceitável ignorar que ao longo de três séculos e meio os senhores de escravos da América Portuguesa dispuseram da propriedade de milhões de mulheres cativas que pouco ou nada poderiam fazer contra suas investidas sexuais. Assim, não há engano em dizer que uma parte significativa da população colonial e imperial era formada pelos frutos de uma violência explícita ou velada. Mesmo quanto às agregadas livres e libertas das fazendas, entre outros segmentos, a hipótese da consensualidade nas relações com os poderosos é bastante discutível.<br />.A taxa de natalidade entre os colonos da América Portuguesa era indiscutivelmente alta, mas isto não derivou da expectativa de ter filhos para dar-lhes enxadas. Basta pensar na concepção que aqueles homens traziam da Europa sobre o trabalho manual, e também na relativa facilidade em conseguir escravos, exceto entre os muito pobres.<br />.A historiografia mostra que o casamento de portugueses com índias foi mais exceção do que regra. Além dos concubinatos mais ou menos estáveis, e até da poligamia, um bom número dos então chamados mamelucos foi produto de relações ocasionais, e também não se deve desconsiderar os estupros em massa certamente comuns, por exemplo, nas bandeiras de apresamento de índios e nas expedições punitivas contra "tribos rebeldes". Gustavo Moreirahttps://www.blogger.com/profile/10817279058761189885noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1463973047255826919.post-83182304413750680122014-03-14T12:37:51.395-03:002014-03-14T12:37:51.395-03:00(continuação)
Mas isso conforme foi colocado no p...(continuação)<br /><br />Mas isso conforme foi colocado no parágrafo acima soa muito prosaico. O senso comum prefere a ideia, "wishful thinking", de que os povos tropicais são dados à sensualidade e pouco inclinados à violência e ao racismo, já que preferem comer, beber, dançar e fazer amor ao invés da guerra. Então, os portugueses, povo sulista dado à libertinagem (daí que já fossem meio miscigenados com os mouros) vieram para o Brasil e misturaram-se com índios e africanos, povos ainda mais tropicais, e por este motivo ainda mais dados à libertinagem, resultando daí uma enorme orgia de sexo grupal que formou o povo brasileiro. Desta maneira foi produzida a caricatura do Brasil como uma imensa senzala povoada de mulatas assanhadas e portugueses lúbricos, coisa que é acreditada, principalmente, por estrangeiros, uma vez que essa imagem satisfaz suas concepções acerca de povos tropicais libidinosos em contraposição a povos nórdicos puritanos e circunspectos. A suposta ausência do racismo absolveria o pecado da luxúria.<br /><br />Com certeza o próprio Freyre compartilhava dessas fantasias. Uma obra pouco conhecida que ele escreveu no fim da vida, um livro de memórias intitulado De Menino a Homem, dedica-se a narrar numerosas experiências sexuais bizarras de sua juventude, e deixa claro o quanto ele era obcecado por sexo inter-racial. Acrescente-se que Freyre, filho de um médico, nasceu na cidade e jamais conheceu pessoalmente o universo de casa-grande e senzala que ele descreveu com tanta intimidade aparente.<br />Pedro Mundimhttp://www.pedromundim.netnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1463973047255826919.post-24811110882191083862014-03-14T12:37:06.674-03:002014-03-14T12:37:06.674-03:00As ideias freyreanas acerca das relações raciais n...As ideias freyreanas acerca das relações raciais no Brasil são um antigo "wishful thinking", daí que despertem discussões apaixonadas até hoje. Longe de mim desmerecer a vasta e original obra sociológica de Gilberto Freyre, que teve a coragem de ir contra a corrente de seu tempo, e valorizava sobremaneira aspectos da vida privada como chave para a explicação de fenômenos sociais, método que era desprezado pela sociologia da época, mas que teria o devido reconhecimento no futuro. Justamente por respeitar Freyre, eu lamento que sua obra seja reduzida a um apanhado de lugares-comuns em prol da mestiçagem e conceitos bobos como a tal de democracia racial, termo que, aliás, jamais foi escrito por Freyre.<br /><br />A tese de Freyre foi que a miscigenação anula o racismo. Isso é uma meia verdade. A miscigenação torna o racismo difuso, uma vez que o racismo, tal como toda dicotomia Nós X Eles, só existe enquanto Nós formos perfeitamente distinguíveis d'Eles. Já os detratores de Freyre criaram uma mistificação ainda mais tola: de que a miscigenação brasileira é produto da violência, como se todos os brasileiros de pele escura fossem descendentes de escravas estupradas nas senzalas. Estupros ocorreram sem dúvida, mas é um primarismo atroz achar que todo um grupo étnico possa ter nascido de sucessivos estupros. Jamais vi um historiador francês defender a tese de que seu povo descende de mulheres gaulesas estupradas por legionários romanos, nem um historiador escocês afirmar que seu povo nasceu de mulheres celtas estupradas por vikings, mas muitos idiotas por aqui afirmam com toda a seriedade que os brasileiros são o produto de índias e africanas estupradas por portugueses...<br /><br />A miscigenação brasileira foi mero fruto da necessidade: quando aportaram aqui os primeiros colonos portugueses, vinham apenas homens e nenhuma mulher. Esses colonos tinham que ter filhos - qualquer um que se estabelece em uma terra desconhecida, despovoada e sem produção regular de alimentos, sente logo a necessidade imperiosa de produzir descendentes na maior quantidade e o mais rapidamente possível, pois sem eles não terá sequer como sustentar-se quando lhe faltar forças para o trabalho. Os colonos tiveram que desposar índias, e tinham, sim, relações estáveis com elas, pois apenas relações estáveis podem produzir a grande quantidade de rebentos de que eles necessitavam, e quanto à poligamia, esta era aceita conforme os costumes dos índios. Mais tarde, essa massa de cabocos viria a se miscigenar com os africanos recém-libertos da escravidão, que tinham uma condição social similar à deles, dando origem aos mulatos. Foi isso o que aconteceu.<br /><br />(continua)Pedro Mundimhttp://www.pedromundim.netnoreply@blogger.com