tag:blogger.com,1999:blog-1463973047255826919.post4899212310128155288..comments2024-01-15T23:52:00.195-03:00Comments on História & Política: Cinco mitos sobre a História da ÁfricaGustavo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/10817279058761189885noreply@blogger.comBlogger9125tag:blogger.com,1999:blog-1463973047255826919.post-25012020256563532222013-10-14T20:34:00.660-03:002013-10-14T20:34:00.660-03:00Respondendo ao Pedro Mundim: A América Portuguesa ...Respondendo ao Pedro Mundim: A América Portuguesa não foi "passiva" em relação ao tráfico de escravos por dois motivos: em primeiro lugar, havia grupos residentes na colônia americana dos lusos que tinham interesses próprios, que, aliás, divergiam dos interesses metropolitanos. Foi por esse motivo que Portugal, por exemplo, estabeleceu que a América Portuguesa deveria estabelecer transações comerciais somente com ele, pois era necessário transformar a "exploração colonial' em "domínio colonial" (Alencastro, Luiz Felipe. O Trato dos viventes). Ora, tais grupos sociais também demandavam escravos. Esse argumento é bem ilustrado pela Revolta do Beckmão, no norte da América Portuguesa.<br />Nesse sentido, também deve ser observado que o controle da colônia americana pela metrópole portuguesa se deu através do controle do fornecimento de escravos. Pensemos por um momento: entre todas as colônias das Américas, a de Portugal foi a que mais recebeu escravos. Será que isso foi devido à sua "passividade"? Sem dúvida alguma, sua tese é reconfortante ideologicamente, mas falseadora da realidade.<br />No século XIX, basicamente entre 1801 a 1856, o número de escravos africanos aqui desembarcados foi superior ao montante dos três séculos anteriores. Passividade? Os africanos não vieram para cá por vontade própria.<br /><br />Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1463973047255826919.post-24376314971047984562013-10-13T09:43:06.199-03:002013-10-13T09:43:06.199-03:00Ainda sobre a "passividade": já ouviu fa...Ainda sobre a "passividade": já ouviu falar em homens como Brás Carneiro Leão, Amaro Velho da Silva, Elias Antônio Lopes e Antônio Gomes Barroso? A partir de onde eles articulavam o abastecimento de escravos da América Portuguesa?<br />Quanto ao argumento sobre os "pretos da África" que se tornavam brasileiros, vale relembrar a terminologia do período imperial: mesmo que corressem décadas desde a sua alforria, todos os documentos oficiais, além da imprensa, denominavam estas pessoas como "africanos livres". Caso conheça alguma exceção, apresente-a para a apreciação dos leitores. Gustavo Moreirahttps://www.blogger.com/profile/10817279058761189885noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1463973047255826919.post-80610439037940627772013-10-13T09:36:43.750-03:002013-10-13T09:36:43.750-03:00O que se discute não é o "caráter escravagist...O que se discute não é o "caráter escravagista" de portugueses ou holandeses, quando na verdade toda e qualquer colonização baseada na plantation no século XVII dependeria do braço escravo, e sim a vinculação entre as Histórias da África e a do História do Brasil.<br />Voltemos ao meu exemplo, que de forma alguma você desconstruiu: os holandeses tomaram Luanda em 1640; oito anos depois, o governador do Rio, Salvador Corrêa de Sá e Benevides, grande traficante agindo também no interesse dos senhores de engenho da colônia, arma uma expedição, que conta inclusive com índios brasileiros entre seus soldados, e retoma aquela posição; Portugal, em plena guerra de "restauração" contra a Espanha, pouco ou nada poderia fazer por aqueles súditos do Atlântico Sul. Onde fica a tese da "passividade"? Gustavo Moreirahttps://www.blogger.com/profile/10817279058761189885noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1463973047255826919.post-32897756236891041032013-10-12T14:36:12.336-03:002013-10-12T14:36:12.336-03:00Bem, isso não quer dizer muita coisa, pois em 1640...Bem, isso não quer dizer muita coisa, pois em 1640 tanto portugueses quanto holandeses eram escravagistas.<br /><br />Pode-se falar do impacto que o comércio de escravos teve sobre a evolução histórica da África - basicamente a necessidade de atender à demanda induziu muitas guerras, alguns povos foram derrotados e reduzidos à condição de escravos, enquanto outros enriqueciam com o comércio e deram origem a oligarquias ainda hoje proeminentes na África. Mas isso foi o produto do comércio de escravos como um todo, e não especificamente com a América Portuguesa. Penso que pode-se falar de uma correlação da história da África com a história de Portugal entre os séculos 16 e 19, pois houve de fato uma interação e intervenção direta de Portugal na África durante esse período, mas a colônia do Brasil teve aí um papel totalmente passivo, de mero receptor de escravos. Esses escravos vieram a protagonizar episódios em nossa história que até merecem ser lembrados, mas já na condição de brasileiros, não de africanos - penso que eles não devem ser chamados de africanos apenas porque eram pretos.Pedro Mundimhttp://www.pedromundim.netnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1463973047255826919.post-61106566962036866712013-10-10T07:24:25.000-03:002013-10-10T07:24:25.000-03:00Ilustrando brevemente as suas observações, podemos...Ilustrando brevemente as suas observações, podemos lembrar que quando os holandeses tomaram as posições portugueses em Angola para abastecer Pernambuco, em 1640, a expedição de "reconquista", alguns anos mais tarde, partiu do Rio de Janeiro e foi financiada pela empresa traficante existente nessa última cidade. Gustavo Moreirahttps://www.blogger.com/profile/10817279058761189885noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1463973047255826919.post-2929577551557276632013-10-09T22:41:30.018-03:002013-10-09T22:41:30.018-03:00A ideia de que a história da África não fez parte ...A ideia de que a história da África não fez parte da história do "Brasil Colonial" (a denominação América Portuguesa é mais apropriada) é falsa. Um dos maiores historiadores brasileiros da atualidade, Luiz Felipe de Alencastro, afirma que a escravidão foi o lastro que permitiu a Portugal controlar sua sua colônia americana, pois essa forma brutal de trabalho era o que permitia a reprodução econômica da América Portuguesa.<br />Resulta daí uma demanda de escravos, e entender como o escravismo se configurou na América Portuguesa requer conhecer a dinâmica das sociedades existentes na África, já que "o contingente principal da mão de obra nasce e cresce fora do território colonial e nacional".<br />A necessidade de estudar a História da África também se justifica quando se estuda a escravidão tendo o escravo africano como agente da História, algo felizmente em voga na historiografia. Assim, estuda-se não somente a tráfico negreiro, mas a Diáspora Africana.<br />Saindo do campo da escravidão, o historiador Maciel Santos demonstra que as flutuações econômicas na Amazônia brasileira afetava a produção de alguns locais da África, como Angola, por exemplo. Assim, a correlação entre a história do Brasil e a da África. <br />Só podemos falar da ausência de correlação entre a história do Brasil e a da África caso queiramos falsear a História.Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1463973047255826919.post-74048988392619441492013-10-09T15:24:07.144-03:002013-10-09T15:24:07.144-03:00Outro absurdo é acreditar que o estudo escolar da ...Outro absurdo é acreditar que o estudo escolar da História da África é feito a partir de "vestígios dos escravos", quando ele se baseia nas obras de referência de especialistas que realizaram suas pesquisas ... na África, ou pelo menos dispuseram em larga margem dos arquivos dos antigos impérios coloniais. Tendo alguns minutos de disponibilidade, não seria má ideia você percorrer, por exemplo, o programa da pós-graduação em História da África da UCAM. (Não presto serviços por lá, antes que alguém invista no enredo)<br />Quanto aos cultos afro-brasileiros, eu diria que eles ainda são muito mais incompreendidos e discriminados do que louvados. Aliás, é bastante contraditório alegar um quase exclusivismo ocidental em nossa formação social e reconhecer poucas linhas abaixo que a religiosidade popular possui fortes componentes de origem africana.<br />Quanto à premissa de que a escravidão foi "puro comércio", devo lembrar que isto pode ser um excelente argumento contra o que alguns chamam de ampla liberdade econômica. A resultante dos interesses individuais, em muitos casos, pode ser um desastre para milhões. Gustavo Moreirahttps://www.blogger.com/profile/10817279058761189885noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1463973047255826919.post-24558696558317977562013-10-09T15:07:14.732-03:002013-10-09T15:07:14.732-03:00Raramente você esteve tão equivocado, e sobretudo ...Raramente você esteve tão equivocado, e sobretudo depois de se declarar monarquista por diversas vezes. A História do Império esteve intimamente ligada à africana. Vejamos:<br />.Tão logo chegou ao outro lado do Atlântico a notícia da independência do Brasil, começaram a circular panfletos pregando a adesão ao novo país, especialmente em Benguela, uma das principais bases do tráfico negreiro. Compreensivelmente, uma das condições colocadas por Portugal para reconhecer o governo de Pedro I foi a renúncia brasileira à união com qualquer outra possessão portuguesa.<br />.É fato notório que ocorreram gestões para que o antigo reino do Daomé se tornasse protetorado brasileiro, e mais ainda que em várias partes da África Ocidental se formaram colônias de ex-escravos "brasileiros", com forte intercâmbio cultural entre as duas margens do oceano. <br />.Muitas rebeliões escravas ocorridas na província da Bahia tiveram sua dinâmica (adesões, projetos) diretamente ligada às diferentes identidades étnicas africanas (em um determinado levante encontraremos "nagôs", em outro haussás, etc). As autoridades da época, ao contrário do que você pode imaginar, estavam sempre atentas a estas diferenças. Não lidavam com "escravos genéricos" idealizados.<br />.Muito antes do Império, Palmares já era uma Angola Janga (Pequena Angola). Não se pode entender um dos maiores desafios lançados ao sistema colonial sem conhecer as culturas bantas da África Centro-Ocidental.<br /><br />A noção do escravo como mero instrumento chega a ser pueril. Basta lermos um pouco sobre um movimento como a Revolta dos Malês, onde se acham esboços de um programa de governo formulados por escrito. Gustavo Moreirahttps://www.blogger.com/profile/10817279058761189885noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1463973047255826919.post-87510569979196528452013-10-08T12:40:55.674-03:002013-10-08T12:40:55.674-03:00Concordo que a história da África é bem mais vasta...Concordo que a história da África é bem mais vasta que o estereótipo colonial popularizado nos filmes de Tarzan. Mas a história da África faz parte da História Geral, e não da História do Brasil - por esse motivo, acho de todo incoerente que o ensino da história da África seja tornado obrigatório no Brasil. Não houve nenhuma correlação entre a história da colônia do Brasil e a história dos reinos africanos nos últimos quinhentos anos, e isso é compreensível: os africanos que aportaram aqui vinham na condição de escravos, ou seja, instrumentos e não agentes, devendo amoldar-se à nossa história, e não amoldar-nos à história deles. A história do Brasil é parte da história do Mundo Ocidental, ao qual pertencemos; foram as idéias gestadas na Europa, suas revoluções e instituições peculiares que se tornaram nossos referenciais e direcionaram o rumo de nossa história até os dias de hoje.<br /><br />Na verdade, eu penso que a obrigatoriedade do ensino da história africana nas escolas, não só é incoerente como contraproducente: o mais provável é que servirá para reforçar os estereótipos de primitivismo e vitimização a que você se referiu. Isso porque os poucos referenciais que temos da África são vestígios culturais deixados por escravos, e escravos geralmente são oriundos das camadas de menor nível sócio-cultural. Por esse motivo, hoje, louva-se os cultos afro-brasileiros, e muitos até pensam que na África de hoje ainda predominam as primitivas religiões animistas que deram origem a esses cultos, quando na realidade a África atual é predominantemente monoteísta, em sua maioria muçulmana. Quanto à escravidão, devíamos deixar de hipocrisia: foi puro comércio, tido como legítimo enquanto foi lucrativo para ambas as partes, e tornado ilegítimo quando se incompatibilizou com os novos sistemas econômicos.<br />Pedro Mundimhttp://www.pedromundim.netnoreply@blogger.com