segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A direita sob o fogo amigo: as "inconveniências" da revista Veja


           
        Hoje escrevo, ou antes transcrevo, uma série de obviedades.  Longe de recordar segredos de Estado há muito esquecidos, faço alusão a um conjunto de acontecimentos que referenciaríamos facilmente com o recurso a dois ou três manuais de História Contemporânea. Além disto, os episódios pertencem, na maioria dos casos, a eixos temáticos diferentes; no máximo, poderiam ser agrupados sob um título vago como "Crimes e incoerências da direita internacional".
         O nexo desta composição se relaciona, então, à consulta a uma fonte comum, a revista Veja.   O semanário da família Civita, e nisto sou óbvio outra vez, tem funcionado no país, pelo menos nos últimos vinte e cinco anos, como um dos principais órgãos formadores de opinião no campo do liberalismo conservador.  Ou à direita simplesmente, se assim exigir qualquer moralista tedioso que me argua sobre como uma publicação conservadora pode trazer fotos de mulheres de topless e recomendar shows e livros de artistas conhecidos como usuários de drogas.
     O fato relevante é que Veja, desde a ostensiva promoção que dedicou à candidatura presidencial de Fernando Collor de Mello, em 1989, passando pelo apoio sistemático a todas as gestões tucanas, em Brasília ou nos estados, tem sido o órgão de imprensa mais repudiado pela esquerda em geral, não apenas pela parcialidade deselegante como também pela abertura de espaço irrestrito a personalidades das mais reacionárias.  A montagem que transformo em capa deste texto é uma das inúmeras provas disponíveis de tal "reconhecimento". 
         Torna-se até divertido, portanto, verificar que a revista, apesar de sempre pró-capitalista, em outras épocas não adotava o notório tom pequeno burguês ultrajado que constitui sua marca atual.  Muitas das páginas antigas de Veja contém citações que constrangeriam ou enfureceriam, conforme a situação, a juventude "coxinha" de 2013.  Vamos a algumas delas, não descartando a futura confecção de uma segunda série, inclusive com contribuições dos leitores.       
        Durante a fase mais brutal da ditadura civil-militar, mais precisamente em 25 de setembro de 1968, Veja anunciou ao público brasileiro que o governo do Vietnã do Sul, sustentado pelas tropas norte-americanas, era corrupto no mais alto grau e não representava o povo daquele país.  


    Na edição de 19 de agosto de 1970 lemos que o governo francês, a partir de 1964 (na presidência do conservador Charles de Gaulle), não se furtou a equipar militarmente a África do Sul do apartheid, já então sujeita a um embargo determinado pela ONU. 



     Em 10 de março de 1972 Veja informou seus leitores sobre a proteção concedida pelo Estado norte-americano ao criminoso nazista Klaus Barbie, logo após a Segunda Guerra Mundial. 


      Em plena presidência do general Figueiredo,  a 7 de novembro de 1979, a revista se referiu ao abrigo concedido pelo ultradireitista ditador paraguaio Alfredo Stroessner a outro nazista, Josef Mengele.



    O noticiário internacional da edição de 12 de março de 1975 não apenas rememora o apoio ocidental ao golpe que depôs na década de 50 o primeiro-ministro iraniano Mohammed Mossadegh, de tendências nacionalistas, como também mostra que, na época, a Casa Branca não se importava com a possibilidade de o Irã vir a contar com várias usinas nucleares.



      Segundo a Veja de 5 de maio de 1976, o celebrado secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger, no começo da década, sugerira a seu governo uma atitude pragmática nas relações com os regimes segregacionistas da África do Sul e da Rodésia, talvez preferíveis aos "movimentos rebeldes negros".

  
     Doze anos mais tarde, uma associação entre os Estados Unidos da administração Reagan e o desgastado apartheid sul-africano permanece exposta, na aliança de ambos com o chefe direitista angolano Jonas Savimbi.



Continuem compartilhando, e de preferência nos fóruns dos "coxinhas".
   



Nenhum comentário:

Postar um comentário