quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Breve crônica sobre um herói perdido para a direita




          A guerra propagandística movida pela militância de direita na Internet passa, como já vimos em mais de uma matéria, pela fabricação incessante de calúnias contra lideranças populares e dirigentes de partidos de esquerda.  Embora ninguém esteja totalmente a salvo desta "indústria", cujas agências por vezes funcionam dentro de órgãos de imprensa com pretensão à respeitabilidade, com frequência as operações são dirigidas contra os mortos, que nem sempre terão uma equipe para tentar defendê-los, ainda que em posição desvantajosa.  Um caso emblemático foi o dos múltiplos ataques à memória do ex-presidente chileno Salvador Allende, ao qual  certos canalhas bem remunerados e seus fãs desavisados atribuíram citações racistas e eugenistas na verdade produzidas por terceiros.
        "Eles" não se limitam, entretanto, à tarefa de bradar que para além do status quo só restam os "bandidos".  Também se dedicam à exaltação dos que se dispõem a declarar amor pela ordem burguesa, por vezes em dramática contradição com as próprias biografias.  Neste terreno, os negros conservadores são especialmente bem-vindos; dentro da categoria, um simples gerente de banco ou dono de mercearia do interior que declare nunca ter sido discriminado, ou que manifeste a opinião de que o esforço individual acaba por superar o preconceito, pode receber tratamento de sábio ou estadista.          
        Não sendo os negros conservadores, todavia, tão numerosos quanto gostaria a direita virtual, sobra à última o recurso de deturpar ou exagerar declarações aleatórias para delas extrair seus heróis afro-brasileiros (ou afro-americanos) conformistas.  Há pouco mais de um ano e meio vem circulando nas redes sociais um curto fragmento de uma entrevista concedida por Morgan Freeman que causou êxtase e triunfalismo em muitas comunidades de direita.  Na peça, o ator fez críticas à institucionalização de um Dia da Consciência Negra, fato que levou os mais afoitos a verem nele um tardio Clarence Thomas, Alan Keyes ou Thomas Sowell.        
           

        Quase instantaneamente e de forma involuntária, Freeman se tornou, para uma multidão de reacionários, um ícone contra os males do "vitimismo" e do "coitadismo".  Na versão mais simplista, uma testemunha autorizada de que o racismo desaparece "quando as pessoas deixam de falar no assunto".
        Como nenhuma falsidade ideológica é excessiva para os hidrófobos do século XXI, logo após o falecimento de Nelson Mandela surgiu uma montagem fraudulenta no Tweeter, em que um Morgan Freeman fake se mostra indignado por estar sendo confundido com o morto, chamado de "terrorista".





        Apesar do primarismo de tais mentiras, seus autores contam com meios que as transformam em verdades incontestáveis para milhões de pessoas.  Nada nos custa, porém, desmontar as falácias, mesmo que alcancemos somente alguns milhares de leitores.  Comecemos, então: o "conservador"  Morgan Freeman doou um milhão de dólares para que o "comunista", "muçulmano" e "queniano" Barack Obama se reelegesse presidente dos Estados Unidos.

http://www.huffingtonpost.com/2012/07/19/morgan-freeman-obama_n_1685584.html




        Cerca de um ano antes da mencionada contribuição, era possível vê-lo em atitude de confraternização com o candidato do Partido Democrata ao governo do estado do Mississipi.





           Em atitude impensável para uma nova estrela da direita, e sobretudo estranha para alguém que supostamente tenta se manter alheio à polêmica racial, Freeman acusou o movimento republicano Tea Party de racismo contra Obama.




             Voltemos ao nonagenário "terrorista africano". O ator qualificou Mandela, "apenas",  de herói defensor  da liberdade e da dignidade. 




       Divulguem bastante.  Não para tentar converter mentirosos contumazes e mercenários, mas principalmente para esvaziar sua plateia.


6 comentários:

  1. Gustavo, e o post sobre zumbi?

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  2. Mandela fez ataques a alvos civis quando era um guerrilheiro socialista? A vida só tem valor enquanto útil à revolução é uma verdade para Marx, Lenin, Trotsky, Stalin e para todos os socialistas com dignidade de se colocarem com tais no espaço público. Por isso,

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    1. Por isso, .. você é um bom demagogo e, o que é pior, anônimo. Onde eu disse para alguém matar um mosquito que seja? Não se cansam de criar espantalhos? Chega a ser engraçado, depois, quando acusam os movimentos sociais do tal "vitimismo".

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  3. Gustavo, você viu o livro "História do Brasil para ocupados", organizado por Luciano Figueiredo? Poderia dar um feedback sobre ele? Ao meu ver é uma resposta ao espaço ocupado por Narloch.

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    1. Não conheço. Uma coisa é certa: não deve ter nem 1% da divulgação dos "guias". Mas fica a sugestão, vou me inteirar do caso.

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