segunda-feira, 22 de julho de 2013

Outros motivos para um otimismo à esquerda


        
        Construí na postagem do último dia 17 um quadro ilustrativo dos avanços do princípio da igualdade nos últimos dois séculos.  Utilizei como método a apresentação de posições extremas que as forças reacionárias podiam sustentar em tempos mais ou menos recentes.  Seguindo percurso diferente, mas direcionado ao mesmo ponto de chegada, hoje trago um painel sobre o contorcionismo retórico ao qual se submetem os partidos de direita no intuito de se conservar como opções de governo.
          Longe de recorrer ao argumento da "morte do socialismo real" para sustentar teses de um conservadorismo autoritário e legitimador das hierarquias de classe, gênero e etnia, os direitistas  eleitoralmente viáveis apelam sem cessar aos valores iluministas e à manutenção de direitos sociais para não afugentar os votantes.  A ambiguidade se estende aos próprios nomes destes partidos, que por vezes parecem se diferenciar da esquerda somente pelo destaque conferido à "livre iniciativa". 
          Não direi, é claro, que a direita absorve fragmentos de socialismo para sobreviver.  Sei o quanto  uma declaração de intenções pode ser distorcida ou simplesmente abandonada após a vitória nas urnas.  Porém, não deixa de ser muito significativo que, em uma conjuntura de forças bastante favorável, conservadores e liberais adotem discursos tão defensivos, quiçá evasivos.                     

             O partido francês Union pour un Mouvement Populaire, ao qual se vincula o ex-presidente Nicolas Sarkozy, traz em sua carta de princípios uma proposta de cidadania plena para todos, não importando a origem, a posição social ou a trajetória de vida dos indivíduos.  Em passagem que poderia ser subscrita por qualquer social democrata, os herdeiros dos antigos gaullistas clamam por uma globalização com face humana.  

http://www.u-m-p.org/notre-parti/nos-valeurs


           Os partidários de Sarkozy não se atrevem a contestar o direito de todos aos serviços públicos, e pregam que os assalariados devem ter voz ativa nas empresas privadas. 


         
          A UMP se declara ainda disposta a lutar contra a desigualdade de gênero e a preservar a laicidade como um valor essencial da República.



         O Partido Popular espanhol, não obstante as origens franquistas, vai além.  Seu programa para as eleições gerais de 2011 incluía, além da moderação, o reformismo.  A pretendida melhora da situação econômica do país é associada ao objetivo de "garantir educação, saúde e bem-estar para todos, sem exceção".  

http://www.pp.es/actualidad-noticia/programa-electoral-pp_5741.html


        Encontramos no mesmo documento uma firme denúncia da desigualdade de gênero, inclusive no aspecto salarial, e da violência contra a mulher.



        O descumprimento das metas ambientais do Protocolo de Kyoto também era alvo de ataques.  Os "populares" se dispunham decididamente a reduzir as emissões espanholas de carbono.





         Entre os princípios programáticos do Partido Social Democrata de Portugal, que concentra os votos da direita naquele país, foram inscritos a igualdade de oportunidades e o direito à diferença. 

http://www.psd.pt/?idc=27



          Embora tenha a intenção explícita de se distanciar do socialismo, o partido se aferra ao rótulo de social democrata, sendo em tese universalista e refratário à xenofobia.  




        Já o brasileiríssimo Democratas, em sua carta de princípios, parece lançar no lixo da História a herança do coronelismo e da ditadura civil-militar.  São defendidos os direitos das minorias, uma melhor distribuição de renda, a presença do Estado na promoção do desenvolvimento e o fortalecimento do sindicalismo, enquanto é criticada a ingerência política dos países mais ricos nos assuntos internos dos mais pobres.     

http://www.dem.org.br/wp-content/uploads/2011/01/Principios-do-Democratas.pdf




     Desta maneira, não é aceitável que as forças progressistas, no todo ou em parte, assumam uma postura derrotista. A direita faz manobras de recuo quando parcelas vastamente majoritárias dos recursos financeiros, militares e informativos do planeta lhe pertencem. Quanto não retrocederá, se os segmentos populares e a intelectualidade retomarem a contestação direta ao capitalismo em vinte, trinta ou cinquenta países?        


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