quinta-feira, 6 de março de 2014

A farsa da "farsa yanomami" (segunda parte)

Oca yanomami


       Mencionei, na postagem de 26 de fevereiro, uma falácia vastamente difundida pela militância direitista da Internet: a inexistência do povo yanomami.  Apesar dos numerosos elementos que desmentem esta tese absurda, a amplitude dos meios à disposição dos reacionários e dos colonialistas tardios faz com que milhares de pessoas venham não apenas a acreditar na mentira grotesca, como também a reproduzi-la em suas páginas pessoais.  Isto não deve nos surpreender: já tratei, em outras ocasiões, de mais subprodutos da mesma fábrica de denúncias vazias, como o "nazismo" de Salvador Allende e a "extinção" dos tupinambás baianos no século XVII.  
       Coloco em destaque, desta vez, a versão construída sobre o tema por Janer Cristaldo, que reforça a falsa premissa do coronel Menna Barreto de que os yanomamis foram "inventados" pela fotógrafa Claudia Andujar em 1973.  Cristaldo, todavia, se revela um pouco mais sofisticado   do que o militar na manipulação dos fatos: não podendo simplesmente ignorar o trabalho do antropólogo norte-americano Napoleon Chagnon, ele admite que existem yanomamis ... na Venezuela.      
                
http://cristaldo.blogspot.com.br/2012/08/um-novo-ianoblefe-no-dia-19-de-agosto.html

Os ianomâmis brasileiros são uma criação de Cláudia Andujar – fotógrafa que ora é suíça, ora é romena. Se o antropólogo Napoleon Chagnon constatou a existência de uma tribo de ianomâmis na Venezuela, a extensão desta etnia a territórios brasileiros está longe de ser uma evidência. O blefe do massacre de ianomâmis em 93 repousa sobre um blefe anterior, ou seja, a existência de uma tribo ianomâmi no Brasil. Quem faz esta denúncia é o coronel Carlos Alberto Lima Menna Barreto, em A Farsa Ianomâmi (Rio, Biblioteca do Exército Editora, 1995). Em função de seu ofício, o militar gaúcho trabalhou em Roraima desde 1969, onde teve estreito contato com a população da região e jamais ouviu falar em ianomâmis, palavra que invade a imprensa brasileira e internacional somente a partir de 1973.


          Consultei, na Biblioteca do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ, um dos livros escritos por Napoleon Chagnon a partir das pesquisas que realizou nos anos 60 e 70.  Já no mapa que antecede a Introdução, o autor identifica como regiões habitadas pelos yanomamis, além do extremo sul da Venezuela, partes dos estados de Roraima e do Amazonas.             






    
        A apresentação da obra, assinada pelos editores George e Louise Spindler, traz a informação de que Chagnon, cuja primeira expedição àquela área foi encerrada em 1966, viveu durante três anos entre os yanomamis na Venezuela e no Brasil.




        Relatando suas visitas aos diversos grupos que compõem a nação yanomami, Chagnon deixa explícito que os trabalhos de campo levaram-no ao Brasil no ano de 1967.  Esta datação evidencia mais uma vez o caráter inverídico da história que envolve Claudia Andujar e sua "descoberta" de 1973.   
    



    Em outra parte do livro, na qual faz referência aos sítios arqueológicos outrora ocupados pelas populações que estudava, Chagnon explica que para compreender as relações dos Shamatari com outros grupos yanomamis seria preciso empreender vários meses adicionais de trabalhos de campo na bacia do rio Negro, ao norte do Brasil.    



                   
          Não deixem de compartilhar.  É necessário lançar no merecido descrédito a intensa e constante campanha da direita contra os índios brasileiros.

2 comentários:

  1. Eu era um dos que acreditou na notícia que os Yanomami eram uma farsa. Isso porque a grande preocupação era o risco de uma invasão de apátridas (empresas transacionais) ao nosso território em busca de minérios, já que é conhecido o fato da riqueza no subsolo da região. Isso sim seria um golpe contra os índios. Recebo as evidências de que o Yanomamis realmente existem com um certo alívio: pelo menos parece que não temos uma grande conspiração estas nossas fronteiras.

    Gabriel

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  2. Querem saber se eles realmente existem? venham a Roraima. Simples... Qualquer cidadão local sabe até localizar as aldeias, mas são de difícil acesso.

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