sexta-feira, 12 de julho de 2013

Ser de direita é (segunda parte)



Compartilhar nas redes sociais todas as reportagens que façam alusão a falhas de caráter e deslizes na vida pessoal de líderes populares, sobretudo os que enfrentaram seus opressores pegando em armas.  Afinal, é extremamente perigoso que os pobres se inspirem em pessoas semelhantes a eles mesmos. 

Escandalizar-se com a proliferação de médicos cubanos nos demais países da América Latina e aplaudir a presença de bases navais e assessores militares dos Estados Unidos. 

Solidarizar-se com os movimentos xenófobos que anunciam com pesar a transformação da Europa em "Eurábia", mesmo sabendo que sem os imigrantes inúmeras categorias profissionais tenderiam ao desaparecimento naquele continente.

Afetar desprezo pela cultura acadêmica e protestar contra a influência de militantes e sindicalistas "sem estudo" na política nacional.

Ter fascínio por insígnias, comendas, brasões, bandeiras monárquicas e hinos repletos de palavras já fora de uso, mesmo estando longe de se enquadrar em qualquer modelo de aristocrata.  

Defender a exploração do trabalho e os mecanismos de concentração de renda e conhecimento como fatos "naturais" e imutáveis, ainda que saiba que estas relações são historicamente construídas e remodeladas praticamente a cada segundo.    

Tentar depreciar os pobres que se queixam das injustiças diárias que suportam como "vítimas profissionais" que não querem se esforçar para subir na vida.

Tentar depreciar as pessoas de classe média que não se calam diante das injustiças sofridas pelos pobres como uma esquerda festiva incapaz de abrir mão dos confortos proporcionados pela desigualdade social.  

Caso não seja possível negar o compromisso do esquerdista de classe média com os setores populares, xingá-lo de inimigo da civilização, da pátria ou da religião. 
 
Emocionar-se com as reportagens que enaltecem as organizações carcerárias privadas dos Estados Unidos, inclusive no que diz respeito à implantação de trabalhos forçados, e sonhar com o transplante do sistema para o Brasil, embora esteja longe de ignorar que a seleção do público-alvo obedecerá aos critérios discriminatórios de sempre e que os empresários do ramo criarão inúmeros artifícios para se apoderar de dinheiro público. 

Denunciar as propostas de criminalização da homofobia como tentativa de criar vantagens inaceitáveis, como se houvesse privilégio no fato de alguém sofrer ataques físicos ou morais só para depois ter o prazer de ver seu agressor castigado.

Lamentar o crescimento das colônias hispânicas e do uso do idioma espanhol nos Estados Unidos como se isto representasse uma "contaminação" da sua própria cultura.

Invocar chavões ancestrais sobre a "ignorância do povo" para justificar sua exclusão dos processos decisórios e simultaneamente classificar como desperdício o aumento dos investimentos nas escolas públicas.

Assistir pela quinta vez Indiana Jones e o templo da perdição torcendo com ardor para que o aventureiro mate uns cinco mil indianos.

Confundir democracia com capitalismo a ponto de apontar Médici e Pinochet como salvadores da ordem democrática, enquanto um governo socialista será sempre ditatorial, quando não "totalitário", pouco importando se contar com o apoio de 70% da população.

Especular, somente com os íntimos, como o Brasil seria melhor se aqui tivessem vigorado as leis norte-americanas Jim Crow ou mesmo o apartheid sul-africano. 

Chamar de comunistas todos os políticos que incluem questões sociais em seus discursos, mesmo que com atitude conciliatória e sem contestar os fundamentos básicos do capitalismo,  e tentar resguardar as inúmeras vidraças humanas da direita, restringindo este campo ideológico a um punhado de intelectuais austeros que já morreram.  

Aplaudir as reformas elitizantes que reduziram a capacidade do estádio do Maracanã para menos de 80 mil espectadores, constrangidos ao pagamento de ingressos que inviabilizam a entrada de pobres no local. 

Fazer eco ao patético argumento de que "A Comissão da Verdade deve investigar também os terroristas", ainda que esteja cansado de saber que todos os integrantes de alguma importância da luta armada contra a falecida ditadura já foram processados nas décadas de 60 e 70, muitos deles sendo presos, torturados, exilados ou simplesmente eliminados, enquanto os agentes da repressão no máximo enfrentaram o asco da opinião pública. 

Acreditar nos velhos lugares comuns do tipo "O índio é preguiçoso", "O judeu é um explorador sem pátria", "O árabe é um fanático sanguinário", "Todo cigano é ladrão" e repeti-los raivosamente a cada ocasião em que pessoas destas etnias cometam atos reprováveis.

8 comentários:

  1. ATAQUE GRATUITO á monarquia está descolado do resto do texto de tal modo que beira ao ridículo

    MONARQUIA NÃO É DE DIREITA

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  2. Não precisa "gritar" (escrever com caps lock ativado). Combinemos assim: você me mostra cinco brasileiros comunistas, socialistas ou trabalhistas favoráveis à monarquia e eu retiro do texto a grande ofensa (bandeiras monárquicas).

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  3. Combinemos de outro modo Se Existem muuuitissimos monarquistas de direita e se há raríssimos nomes de esquerda que se digam monarquistas não vejo nisto um argumento imbatível de que monarquia é de direita.

    Rebouças e José Bonifácio defendiam a reforma agrária

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    1. Haja contorcionismo para classificar Rebouças (seja o pai, sejam os filhos) e José Bonifácio como homens de esquerda!

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  4. Ariano Suassuna (1927), nascido na Paraíba e radicado no Recife, em cuja Universidade se formou, fez teatro e romance, com raízes no cordelismo popular nordestino, influência da literatura setecentista espanhola (Calderon de la Barca) e sua vivência pessoal. Suas obras mais conhecidas são O Auto da Compadecida, comédia em 3 atos, editada em 1959 e Romance d'A Pedra do Reino. Em política se afirmava "monarquista de esquerda". Ultimamente declarou-se desencantado com a restauração dos Bragança, reafirmando, porém, convicções socialistas.

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    1. Ou seja: enquanto eu peço cinco nomes de monarquistas de esquerda, para contrabalançar todos os que são de direita, você me apresenta apenas um, que nem é político no sentido estrito da palavra.

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  5. no caso brasileiro, é uma questão problemática saber se podemos usar a

    dicotomia esquerda/direita na política do império Brasileiro (1822-1889), por

    exemplo. De fato, apesar das diferenças entre republicanos, liberais e conserva-

    dores indicarem que não existia um pensamento único e de sinais de que tópicos

    do debate europeu (sobre a herança de 1789 e do iluminismo, sobre o anticle-

    ricalismo, etc.) chegavam ao país e indicavam divisões políticas7, parece difícil

    acreditar que possamos usar o termo «direita» (no sentido europeu da época) para

    nos referirmos, por exemplo, aos conservadores. no máximo, isso poderia ser

    aceitável com imensas ressalvas e poréns.

    o início do período republicano e o acentuar-se da modernidade levou a

    política nacional ao «rompimento» identificado por santambrogio em 1789 na

    Europa e a aproximado um pouco mais do padrão europeu. surgem os primeiros

    partidos realmente operários e de esquerda8 e movimentos já bastante próximos

    ao modelo da direita radical européia do período.

    nesse período da chamada república Velha (1889-1930), na realidade, vá-

    rias correntes de pensamento e inúmeros autores criticavam o capitalismo liberal,

    o operariado estrangeiro e defendiam o Estado forte e a reorganização nacio-

    nal. Entre eles, podemos destacar os militares jacobinos, os positivistas e autores

    como Eduardo Prado e alberto torres. as perspectivas desses grupos dificilmente

    poderiam ser colocadas como homogêneas tanto em relação uns com os outros,

    quanto em relação à direita radical européia. no entanto, forneceram idéias e ar-

    gumentos para a reelaboração da direita no período posterior.

    nesse sentido, talvez os grupos mais próximos do padrão europeu tenham

    sido os grupos monarquistas restauradores que atuaram em sentido anti-re-

    publicano no início da república Velha. tais grupos faziam, de fato, críticas à

    república que se aproximavam notavelmente daquelas da direita radical euro-

    péia do período: o fim da monarquia como o fim da unidade moral da nação,

    a separação igreja/Estado destruindo a harmonia que a união da religião com a

    monarquia dava ao país, etc.

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    1. Assim chega a cansar. Quando eu falei em "comunistas, socialistas ou trabalhistas", é evidente que não me referia ao período imperial e sim à República, mais especificamente aos nossos contemporâneos. Prossigamos: eu aceito o Suassuna como seu primeiro "monarquista de esquerda". Agora você me mostra mais quatro, intelectuais ou militantes que se digam de esquerda, ou pessoas de alguma projeção ligadas ao PT, PC do B, PDT, PSOL, PCO, PSB, que defendam qualquer tipo de monarquia. Nem precisa ser uma nova "Restauração de Bragança" (risos inevitáveis).

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