segunda-feira, 26 de maio de 2014

Contra a escravidão, a favor de um Congresso à esquerda

Flagrante da Operação Gato Preto, efetuada no estado de São Paulo

      Há nove meses, após consulta ao site oficial do Ministério do Trabalho, produzi uma breve matéria sobre o trabalho escravo no Brasil contemporâneo:    

http://gustavoacmoreira.blogspot.com.br/2013/08/parem-o-moinho-prendam-os-moleiros.html

        Infelizmente, foi sem qualquer espanto que, ao reproduzir o roteiro nesta semana, encontrei um quadro muito semelhante: em outras oito comunicações, referentes apenas ao ano de 2014 (há erro de data no cabeçalho de duas), é possível contabilizar mais de mil pessoas submetidas à escravidão ou, no mínimo, a condições degradantes e/ou insalubres em seus empregos.  Os alvos da exploração extrema parecem seguir o padrão "tradicional": carvoeiros, lenhadores, estrangeiros admitidos em pequenas confecções, mineiros, lavradores diaristas.          
     

















          Além destas notícias, o Ministério publicou há duas semanas um relatório anual que aponta para a gravidade do problema, que se mostra como mazela quase onipresente, não se restringindo de forma alguma a regiões ermas e pouco povoadas.  É lícito e até inevitável suspeitar que a repressão governamental atinge somente uma pequena fração do total de ocorrências.  Sabemos o quanto são corriqueiros os "vazamentos" de informação que impedem a prisão de delinquentes ditos "comuns", por vezes acompanhados de obstáculos impostos ao cumprimento da lei por sócios da criminalidade abrigados em altos cargos dos vários Poderes.  Podemos calcular, portanto, que grau devem alcançar a tolerância e a "boa vontade" para com os infratores titulares de CNPJs respeitáveis, em regra atuantes na política local e alistados nas instituições classistas do empresariado.                          


          Considerando a extensão do território brasileiro, os desequilíbrios econômicos abissais entre regiões por vezes próximas, a enorme oferta de capangas e jagunços talvez em todas as municipalidades e, é claro, a corrupção generalizada, seremos levados a pensar que a erradicação de tais práticas constitui tarefa dificílima para qualquer governo.  Para administrações direitistas, sobretudo, liquidar o trabalho escravo constitui missão impossível, mesmo quando vagamente desejada.  Cada cativeiro desbaratado, cada multa imposta às empresas transgressoras, cada desapropriação, significa um recuo, ainda que minúsculo, da desigualdade social que oferece razão de ser para a própria direita, além de um estímulo à busca por mais direitos por parte dos trabalhadores.  
           Uma coalizão conservadora instalada em Brasília não teria como marginalizar, por exemplo, um esforço como o da senadora Kátia Abreu, do Tocantins, que tenta proibir a divulgação, pelo Ministério do Trabalho, do cadastro dos empregadores punidos pelo recurso ao trabalho escravo. A propósito, acessem, salvem e compartilhem a famigerada lista, para que jamais fiquem ignorados os nomes dos que pretenderam, no começo do século XXI,  fazer o país retroceder ao XIX:


         Entretanto, mais importante do que se indignar e denunciar é aproveitar a ocasião fornecida pelo ano eleitoral e se certificar de que seu voto não beneficiará o latifúndio, a agiotagem legalizada, as federações comerciais e industriais, as grandes emissoras de rádio e televisão, os "tubarões" do transporte. Apenas com a presença maciça de operários urbanos e rurais, bancários, professores, comerciários, ferroviários, rodoviários e demais trabalhadores no Congresso Nacional será viável inclinar a balança política para a esquerda e, assim mesmo lutando acirradamente, remover do cenário brasileiro os resquícios do escravagismo e outras sobrevivências das épocas em que o Brasil disputava com Honduras, Serra Leoa e Botswana a taça do maior índice Gini do mundo.       
            

                                 

Nenhum comentário:

Postar um comentário