segunda-feira, 12 de maio de 2014

O tucanato, coveiro-mor dos assalariados



       O economista carioca Armínio Fraga, que presidiu o Banco Central de março de 1999 a dezembro de 2002, no segundo mandato presidencial de Fernando Henrique Cardoso, vem sendo apontado como provável ministro da Fazenda de um hipotético governo Aécio Neves.  Fraga já atua como coordenador econômico da campanha de Aécio, e provocou um justificável pânico em muitos dos que tomaram conhecimento da entrevista concedida a O Estado de São Paulo em 13 de abril de 2014.  Entre várias declarações que deixaram evidente a intenção de reeditar os "ajustes neoliberais" típicos da década de 90, ele insinuou que o salário mínimo estava alto demais, ainda que não tivesse chegado a atacar diretamente a política de elevação progressiva.           



       Este posicionamento nada tem de acidental, ou de particular.  Armínio Fraga teve como antecessor na presidência do Banco Central outro economista carioca, Gustavo Franco, que geriu aquele órgão de agosto de 1997 a março de 1999. Nesta entrevista de março de 2014 ao jornal Mundo Português, (http://www.publico.pt/mundo/noticia/o-brasil-perdeu-uma-decada-com-hesitacoes-ideologicas-e-esse-e-um-tempo-irrecuperavel-1627442),  Franco expôs sem meias palavras sua contrariedade diante do crescimento dos salários, inclusive no setor privado.  



     Gustavo Loyola, doutor em economia pela Fundação Getúlio Vargas, precedeu Gustavo Franco na presidência do Banco Central, que ocupou de junho de 1995 a agosto de 1997, ou seja, nos primeiros anos do governo FHC. Entrevistado pelo G1 Globo em outubro de 2012, Loyola assumiu muito claramente seus interesses de classe (hoje é diretor de uma empresa de consultoria), ao apontar que os empresários estão insatisfeitos com os "custos da mão de obra".




    Pedro Malan foi titular do Ministério da Fazenda durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso.  Em março de 2000 ele lutava, dentro da coalizão de forças então no poder, para que prevalecesse um reajuste reduzido do salário mínimo.  Colocava-se, na questão, à direita do "falecido" PFL. (Ver https://www.dgabc.com.br/Noticia/439847/minimo-teria-impacto-de-rs-2-940-bi-em-12-meses-diz-malan?referencia=navegacao-lateral-detalhe-noticia


           Durante os seis primeiros meses do governo FHC, de janeiro a junho de 1995, o paulista Persio Arida esteve à frente do Banco Central.  Antigo opositor da ditadura, que se tornou banqueiro, concedeu a O Estado de São Paulo, em julho de 2013, a entrevista abaixo (http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-brasil-precisa-de-menos-intervencionismo,1053326,0.htm).  Arida não apenas julga absurdo que o mínimo acompanhe o PIB (uma "excrescência"), como se opõe ao estabelecimento de aumentos reais para os aposentados. 



            Everardo Maciel, geólogo por formação, deteve o cargo de secretário da Receita Federal entre janeiro de 1995 e dezembro de 2002.  Manifestava-se com frequência, naquele período, contra a correção da tabela de deduções do Imposto de Renda e a elevação da faixa que determina a isenção do pagamento do mencionado imposto.    



    Podemos notar que de fato, no decorrer da gestão de Maciel, estes limites tenderam ao congelamento, enquanto os aumentos nominais de salário incorriam no ataque do Fisco. 



       Edmar Bacha, economista mineiro, presidiu o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de janeiro a novembro de 1995.  Entrevistado pelo Valor em fins de 2010, mostrou-se favorável à supressão das gratuidades no ensino superior, medida que não apenas golpearia o orçamento da classe média, como também imporia dificuldades financeiras de longo prazo a muitos estudantes pobres, que seriam obrigados a saldar "empréstimos escolares".  


     
       Estes homens, se não assumirem diretamente o comando da economia no caso de um indesejável retorno do PSDB ao Planalto, serão os mentores da equipe econômica tucana.  Isto resultará, para os assalariados em geral, em uma fase de pelo menos quatro anos marcada por severas perdas. Cabe à maioria dos brasileiros, portanto, fazer valer o lema criado por algum irônico opositor do tucanato: AÉCIO NEVER!     

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