quinta-feira, 1 de maio de 2014

O risível "progressismo" de Aécio Neves




        Visitei, anteontem, a página oficial do PSDB no Facebook.  Embora fiquem nítidos, em muitas postagens, os compromissos preferenciais do partido com a alta burguesia, não se trata de um espaço abertamente reacionário.  Podemos até identificar, nos comentários, certo número de manifestações de franco-atiradores da direita raivosa, mas prevalece uma linha editorial que alterna declarações de amor a vários segmentos do empresariado com concessões retóricas a ideais humanitários e ao politicamente correto.  Apesar de mobilizarem, na atualidade, um eleitorado cada vez mais conservador, os tucanos não se mostram dispostos a abandonar o rótulo socialdemocrata. 
       Percebi que esta estratégia, não raro, conduz ao ridículo, sobretudo porque a mistura de elementos contraditórios precisa acomodar, ainda, as prioridades de uma campanha presidencial. Há poucos dias, tinha visto circular na Internet uma foto de Aécio Neves vestindo, por cima do paletó e da gravata, uma camisa com os dizeres "Moreno não, sou negro!".  Ri, calculando que se tratava de montagem, até constatar que de fato o senador mineiro posou com a peça mencionada para agradar a uma entidade denominada Tucanafro.  Como o episódio não foi muito bem explicado na página, talvez algum incauto acabe imaginando que, se as coisas correrem de acordo com as aspirações do tucanato, depois da primeira mulher na Presidência do Brasil será a hora de eleger um negro, o próprio Aécio!               

                  




             
           Encontrei várias repetições de um quadro em que o candidato do PSDB expõe sua posição favorável ao marco civil da Internet.  Fui obrigado a pensar, com boa carga de ironia, nos contorcionismos de discurso a que serão forçados os incontáveis articulistas e comentaristas de direita que têm seguidamente apontado a regulamentação do setor como parte da "comunização" ou "venezuelização" do país, e, dentro de poucas semanas, deverão convencer seu público a votar em Aécio. 


              
         Não pretendo fazer desta matéria, porém, uma comédia-pastelão em que as aves bicolores levam uma sequência de tortas nos bicos.  Tratemos, assim, de um ponto mais sério.  Quando o famigerado golpe de 1964 completou seu quinquagésimo aniversário, Aécio Neves apresentou no Congresso Nacional uma veemente condenação daquele processo.  



          
        Como sempre julguei que em política as ações (e as articulações) têm mais importância do que as palavras, decidi realizar uma breve verificação de coerência.   O PSDB conta neste momento com onze senadores em exercício, entre os quais o próprio Aécio.  Um deles, Aloysio Nunes Ferreira Filho, participou efetivamente da luta contra o regime ditatorial, como integrante da Aliança Libertadora Nacional (ALN), liderada por Carlos Marighella. Mais tarde, já no PMDB, se bandearia para o quercismo.  A biografia de Aloysio Nunes, entretanto, está longe de constituir um padrão entre seus pares.  Temos mais exemplos do contrário.
      Durante a ditadura, a hoje senadora Lúcia Vânia foi primeira-dama de Goiás, no governo de seu ex-marido, o arenista Irapuan Costa Júnior (Ver http://www.goiasdeverdade.com/?p=2900). Coerentemente, ao ser eleita deputada constituinte se alinhou, sobretudo no campo econômico, com as teses do Centrão.   



    O catarinense Paulo Bauer, antes de se ligar ao PSDB em 2005, cumpriu como poucos o percurso indicado aos adeptos da ditadura: filiado à ARENA entre 1975 e 1979, esteve no PDS de 1980 a 1993, no PPR e no PPB nas temporadas de 1993 a 1995.  Cumpriu, finalmente, dez anos no PFL. (Ver http://www.votenaweb.com.br/politicos/paulo.bauer).



      Ruben Figueiró, de Mato Grosso do Sul, pertenceu igualmente aos quadros da ARENA, pela qual se elegeu deputado estadual e federal (Ver http://www.excelencias.org.br/@parl.php?id=88134&cs=0&est=11&part=0). 



       Também localizamos com facilidade, na bancada tucana da Câmara, o DNA golpista. O deputado Marchezan Júnior, obviamente, é filho de Nelson Marchezan, que entre inúmeros serviços prestados à ditadura, foi líder do governo Figueiredo na mesma Casa (Ver http://www2.uol.com.br/JC/_2002/1302/po1302_2.htm). 


      Paulo Abi-Ackel é filho de Ibrahim Abi-Ackel, ex-ministro da Justiça do governo Figueiredo, cujos antecedentes, bastante polêmicos, podemos recordar com o recurso a velhos recortes de jornal (Ver http://www.arqanalagoa.ufscar.br/pdf/recortes/R02529.pdf).


     O antigo udenista Bonifácio de Andrada atravessou todo o período dos presidentes-generais como integrante da ARENA e do PDS, obtendo consecutivas reeleições (Ver http://www.votenaweb.com.br/politicos/bonifacio.de.andrada).  Possivelmente é o melhor representante do espírito de 1964 dentro do tucanato.    




      Antonio Imbassahy, deputado pela Bahia, assumiu o cargo de secretário de Saneamento e Recursos Hídricos daquele estado em 84, quando governava João Durval Carneiro, sob o patrocínio de Antônio Carlos Magalhães.  Logo em seguida, ocuparia postos eletivos pelo PFL (Ver http://www.antonioimbassahy.com.br/imbassahy/). 


                   
      Como cheguei, na verdade sem intenção prévia, ao inesquecível ACM, nada mais conveniente do que encerrar esta sessão de imagens com uma foto da pré-campanha de Aécio Neves.  O tucano parece feliz em Salvador, cercado pelo herdeiro ACM Neto e pelo carlista Paulo Souto. 



         Os entusiastas da ditadura que escolherem Aécio não incorrerão, portanto, em grande transgressão ao seu credo político. Mais do que isto, podem dispor da certeza de que votam a favor de um projeto claramente conservador, mesmo que por vezes entremeado de apelos demagógicos ao social. Contudo, como quase toda ação implica em efeitos colaterais, saberão de véspera que optam por conviver com a hipocrisia, e no grau mais alto.    


2 comentários:

  1. Coitados, os alunos...

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    1. Eu nunca transformaria o PSDB em tema de aula. Imagine só o risco de ser acusado de expor crianças a conteúdo pornográfico.

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