segunda-feira, 20 de junho de 2016

Bancando o próprio algoz?




         A afirmativa de que Fábio Luís Lula da Silva é proprietário ou sócio majoritário da Friboi foi uma das mais bem-sucedidas falácias midiáticas dos últimos anos. Difundida por incontáveis blogs, canais do Youtube e tabloides impressos, a "notícia" levou o grupo JBS (Friboi é um "nome fantasia") a contratar a agência 4Buzz para tentar desmenti-la (ver, por exemplo, https://br.noticias.yahoo.com/dona-da-friboi-contrata-empresa-para-limpar-sua-imagem-na-web-203922229.html), ao que parece sem resultados.  Cotidianamente ouvimos, inclusive das bocas de pessoas cultas e com amplo acesso a todo tipo de informação, que "Lulinha é o dono da Friboi".  Pesquisa recente, feita entre os participantes de uma manifestação anti-Dilma ocorrida em abril, demonstra o quanto uma mentira bem plantada pode prosperar:            
               

"A conclusão foi que 71% concordam com a afirmação que 'Fabio Luis Lula da Silva, o Lulinha, é sócio da Friboi', o que levantaria a suspeita de uma ligação não muito clara do ex-presidente Lula com a empresa."

          Sendo verdade, estaríamos diante de um caso ímpar de insanidade política.  Dados disponíveis no site oficial do TSE comprovam que a JBS S/A, sob o CNPJ 02.916.265/001/60 ¹ , destinou em julho de 2014 R$ 200.000,00 à campanha do deputado federal Jair Bolsonaro, na época filiado ao PP (Partido Progressista).  Teríamos assim, para efeitos práticos, o ex-presidente Lula investindo na reeleição de um de seus maiores inimigos.  Aquela contribuição, aliás, foi a única receita provinda de empresas admitida nas contas de Bolsonaro (http://inter01.tse.jus.br/spceweb.consulta.receitasdespesas2014/abrirTelaReceitasCandidato.action ²).
        




        Aproveitemos, enquanto é possível, o pouco de transparência que ainda resta nas instituições governamentais.  Escrevi nesta página, há quase três anos, notas sobre trabalho escravo no Brasil baseadas em dados oficiais do Ministério do Trabalho (http://gustavoacmoreira.blogspot.com.br/2013/08/parem-o-moinho-prendam-os-moleiros.html).   Pelas regras vigentes, eu não conseguiria reprisar este modesto feito.  Diversos artifícios jurídicos têm impedido que as atualizações da chamada "Lista Suja do Trabalho Escravo" sejam publicadas.  Ficaremos, eventualmente até a morte da maioria dos envolvidos, impossibilitados de saber que parlamentares da legislatura 2015-2018 representam os interesses escravagistas do século XXI.  
         Enfrentamos uma guerra das mais assimétricas. Enquanto a gestão Temer anuncia a suspensão das verbas de patrocínio de Luís Nassif e Paulo Henrique Amorim, entre outros, como medida moralizante, utiliza, no melhor estilo dos antigos governos ditatoriais, as Organizações Globo como "agência oficiosa".  Mantém, além disto, fora da agenda política nacional qualquer discussão a respeito dos privilégios das seis famílias que, em conjunto, controlam a maior parte de tudo que se produz no país no campo da informação.  Mas sigamos lutando: nossa rendição significaria o triunfo integral do projeto "deles".  


Notas:

1- O CNPJ  da JBS S/A, companhia aberta de capital autorizado, pode ser conferido em http://jbss.infoinvest.com.br/ptb/239/Esclarecimento_Noticias_UniaoEuropeia_17122007.pdf .

2- Para acessar os dados, basta clicar na opção "Selecionar Candidato", introduzir o cargo (deputado federal), a unidade da federação (Rio de Janeiro) e buscar na listagem alfabética o nome Jair Messias Bolsonaro, cujo número de campanha foi 1120.  

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