sexta-feira, 24 de junho de 2016

Parabéns à Inglaterra!

                                                         Cartaz contrário à União Europeia
                                                              Fonte: http://reconstructioncommuniste.eklablog.fr/ 


         Tive a satisfação, nesta manhã, de ver a equipe de jornalismo da TV Globo, mais especificamente o grupo do programa Bom Dia Brasil, em estado de luto.  Aparente, é claro, pois não sou o primeiro nem o milésimo a perceber que as emoções demonstradas pelos repórteres da “agência oficiosa”, há muito tempo, funcionam como se obedecessem à coordenação de um excelente diretor de novelas.  O motivo da tristeza, explícito, era a decisão tomada ontem pelos eleitores britânicos, que por boa margem de votos optaram por excluir a Inglaterra da União Europeia.
           O fato foi apresentado como se um terremoto de alta magnitude houvesse vitimado a população da ilha, que a partir de hoje estaria sujeita à paralisia econômica, ao desemprego em massa, ao isolamento diplomático e ao naufrágio da moeda.  O jornal televisivo enfatizou a posição do governo japonês de recomendar a permanência britânica na União, como se o Japão dispusesse de qualquer autoridade legítima para decidir quem se adapta, ou não, ao Tratado de Maastricht! 
            Durante alguns segundos ocuparam a tela, como se fossem mestres de cerimônia de uma espécie de ato fúnebre, o primeiro-ministro inglês (demissionário) David Cameron e o presidente francês François Hollande.  Cameron se mostrava cabisbaixo, e Hollande irritado, no papel de quem cobraria mais comprometimento com o bloco por parte da Alemanha.  Duas cenas bem representativas de um status quo esgotado em todos os aspectos, desmoralizado à direita e à esquerda.  Cameron é o conservador burocrático, do tipo que submete os projetos da direita às conveniências de sua própria carreira e não hesita em eventualmente se comportar como socialdemocrata para evitar a perda de um ou dois pontos percentuais nas pesquisas de opinião ou a derrocada de seu partido em algum condado do interior.  Hollande, ainda mais nocivo, é o “socialista” que não implantaria o socialismo sequer em oitocentos anos, se pudesse viver como um patriarca do livro do Gênesis.  Pelo contrário: não vacila diante da opção de empregar o exército francês contra a autodeterminação dos povos da África e do Oriente Médio, e a polícia contra os trabalhadores de seu próprio país. “Torci” fervorosamente, admito, para que Hollande vencesse a quadrilha de Nicolas Sarkozy em 2012.  Prometo nunca mais cair neste tipo de ilusão. 
       A experiência da União Europeia cristalizou, entre outras mazelas, um modelo de alternância pelo qual o “direitista” sem ideias, ao ter contra si 51% dos votos, é sucedido pelo “esquerdista” que governa conforme a mesma cartilha, diferindo apenas na maior lentidão para executar as “reformas” neoliberais.  Quatro, oito ou doze anos depois, o segundo se torna igualmente detestado e acaba batido nas eleições por um ex-secretário ou afilhado político do primeiro, que também não foge ao círculo vicioso.  Pior do que isto: o estabelecimento de cláusulas pétreas nos campos da macroeconomia e da organização política, segundo os moldes dos membros mais ricos da União e sob a batuta destes, restringe quase por completo as possibilidades de mudança nos mais pobres, cujas sociedades contêm maiores desequilíbrios. 

         Não desconheço que milhões de reacionários que vivem no continente europeu, ansiosos em liquidar o pacto meio esfacelado para facilitar o avanço de programas fascistas, ficaram felizes após o referendo inglês.  Todavia, vejo o fiasco de ontem do gabinete Cameron como um bom passo contra o imobilismo.  Cabe à autêntica esquerda europeia se mobilizar para o enfrentamento de todos os seus adversários: conservadores “responsáveis” e "ordeiros", fascistas parlamentares e "terroristas", “socialistas” burgueses.  Por fim, já que também falei de ilusão, cheguei a pensar por instantes o quanto seria belo se, ainda durante a minha vida, a nefasta OTAN virasse pó.  Espero o tempo que for preciso, mesmo sabendo que os brasileiros têm para hoje a agenda internacional entreguista do Zé Serra.    
                                               

3 comentários:

  1. Professor, uma ONG paraguaia está cobrando 150 trilhões de dólares de indenização pela guerra "promovida" pela Tríplice Aliança. O que acha disso?

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  2. Acho que você deve tentar ter uma vida sexual, ao invés de passar anos inteiros na Internet.

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    1. Esses trolls são uma comédia rsrsrsrsrsrs

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