segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Mais terras para a direita ruralista

        
          Retornando à blogosfera, percebi que nas últimas semanas muitos editores, como Sakamoto, Argemiro Borges, Saraiva e Luis Nassif, fizeram comentários a respeito da participação de Regina Duarte no evento denominado 45ª Expoagro, que ocorreu na cidade sulmatogrossense de Dourados.  Segundo todas as versões, ao falar para os ruralistas ela lhes apresentou solidariedade contra a demarcação de terras indígenas na região.  
            Imediatamente procurei o provável contraponto, fosse um desmentido da própria Regina ou uma defesa elaborada por terceiros.  Após dezenas de tentativas infrutíferas, localizei a notícia sob um ângulo favorável à atriz, porém muito semelhante nos aspectos mais essenciais:            

http://www.newsbrasilcentral.com.br/imprime.php?id=19728

O vice presidente da Famasul, Eduardo Riedel fez coro aos oradores que o antecederam, falou da importância do trabalho da Famasul junto com os parlamentares no sentido de fortalecer as conversações em torno do seguro rural, da relação produtor/frigorífico e do embate por que atravessa o produtor com a questão fundiária. 
A atriz Regina Duarte, criadora de gado Brahman, que estava presente ao evento, foi lembrada por Eduardo “Num dos momentos mais delicados da política Brasileira a Regina Duarte tomou posição. Sua coragem deve servir de exemplo a todos nós”. 
Regina que fez a campanha presidencial de José Serra repetiu o jargão usado na época, quando ela dizia ter medo de um governo do PT. “Confesso que em Dourados voltei a sentir medo”, disse a atriz com referência às portarias da FUNAI (Fundação Nacional dos Índios) que prevê a criação de reservas nas regiões da Grande Dourados e Sul do Estado. Ela mostrou a sua preocupação com o desrespeito aos produtores. “O direito à propriedade é inalienável”, disse a atriz que também ouviu as preocupações do Sindicato Rural de Dourados destinada aos Quilombolas. 



          Pouco tenho a acrescentar às críticas que meus "antecessores" compuseram, a começar pela denúncia do recurso ao medo, que aparentemente constitui o argumento predileto de Regina Duarte.  Também não farei alusões aos interesses classistas de Regina ou ao racismo pessimamente disfarçado das correntes políticas que lhe são afins.  
        Prefiro me deter em questões que em regra são desconsideradas quando se discute, no Brasil, o acesso à terra por parte de índios, quilombolas e sem-terra, bem como o estabelecimento de áreas de preservação ambiental.  Desde os primórdios da organização do Estado brasileiro, os intelectuais oligárquicos aludem à necessidade de alinhar o país entre as "nações civilizadas", "adiantadas" ou "desenvolvidas".  Tal tendência, na segunda metade do século XX, mais de uma vez esteve associada a ideias como a de que "o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil".   
             Entretanto, outros pesos e medidas são empregados quando emergem na ordem do dia os direitos de segmentos desprivilegiados.  No caso da propriedade fundiária, a cada ocasião na qual o agronegócio se vê privado de áreas para sua expansão, por mais diminutas que sejam, um robusto conjunto de meios de comunicação leva ao público uma projeção de futuro marcada pela fome nas cidades e pela falência financeira do Brasil.
             Para indicar o caráter demagógico deste discurso, trago alguns dados ilustrados sobre países costumeiramente mencionados enquanto exemplos de sucesso na agricultura e na pecuária.  Podemos ver neste mapa da Austrália, cuja área equivale a mais de 80% da brasileira, que as terras pertencentes aos aborígines alcançam imensas proporções, e estão longe de se limitar às regiões desérticas.           




Notemos, simultaneamente, que a população indígena australiana é bastante inferior à brasileira:


A população aborígene está restrita a 366.436 indivíduos, representando menos de 1% da população australiana.

Na Nova Zelândia, as reservas destinadas aos maoris são menores.  Todavia, os 84.300 km² de áreas de conservação, em seus variados tipos, representam mais de 30% do território, que totaliza cerca de 270.000 km²:



In 2004, 8.06 million hectares were set aside in New Zealand for public conservation land. By the end of October 2007, a total of 8.43 million hectares were legally protected, which is an increase of 4.56 per cent.

        No Canadá, que também conta com menos índios do que o Brasil (e nenhum quilombola), as reservas indígenas são igualmente consideráveis em tamanho e, ao contrário do que se poderia supor, estão concentradas na Colúmbia Britânica (costa do Pacífico) e nas proximidades da fronteira com os Estados Unidos, e não nas zonas de geleiras.  Os povos indígenas recebem a  mesma denominação de "nações" que causa tanta histeria entre a direita brasileira: 





No Canadá existem quase 540 000 índios registrados ou pessoas que têm o status de índios (cerca de 1.8% do total da população do país). Quando é "registrado", o indivíduo é reconhecido sob a lei federal como índio, com certos direitos, privilégios e benefícios. Cerca de 55% dos índios registrados vivem em áreas específicas de terra, chamadas de reservas, demarcadas para o uso e benefício dos indígenas. Há mais de 2200 reservas espalhadas pelo Canadá para cerca de 605 Primeiras Nações. A maioria localiza-se em zonas rurais, muitas são isoladas e algumas não são habitadas.

        
         A crítica ao poder dos latifundiários e a desconstrução das falácias dos seus prepostos é sempre oportuna.  

         
               




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