sábado, 21 de julho de 2012

Heróis da direita: Lacerda, o corvo golpista


            É comum encontrarmos nas ruas do Rio de Janeiro, em especial nos bairros que cultivam uma auto-imagem aristocrática, conservadores e liberais que enaltecem a memória de Carlos Lacerda (1914-1977).  Antigo militante comunista, ainda jovem Lacerda se bandeou para as forças que compuseram a União Democrática Nacional (UDN), partido do qual seu pai, Maurício de Lacerda (1888-1959), foi um dos fundadores.  Tornou-se em pouco tempo o líder incontestável da direita na capital do país.     
           Mais do que as obras de engenharia realizadas por Carlos Lacerda durante seu governo no estado da Guanabara (1960-1965), como a construção da estação de tratamento de águas do Guandu, dos túneis Santa Bárbara e Rebouças, e a urbanização do Aterro do Flamengo, os lacerdistas reverenciam a disposição implacável para o combate retórico e prático aos trabalhistas e comunistas, bem como a todos os dirigentes contrários às suas cruzadas supostamente moralizantes. 
          Relega-se ao esquecimento o caráter ardiloso e truculento de Lacerda, que lhe valeu o apelido de Corvo do Lavradio, logradouro carioca em que funcionava A Tribuna da Imprensa, jornal de sua propriedade.  Carlos Lacerda foi uma das figuras mais antidemocráticas da política brasileira do terceiro quartel do século XX.  Na ânsia de chegar à Presidência da República, fez o que esteve ao seu alcance para desestabilizar as gestões de Getúlio Vargas, Jânio Quadros e João Goulart, além de conspirar contra a posse de Juscelino Kubitschek.  Para isto, recorreu aos numerosos contatos que estabelecidos com elementos golpistas das Forças Armadas.          
           A exposição de todas as patifarias de Lacerda, mesmo que sucinta, poderia formar um robusto livro.  Fica a sugestão, para quem dispuser de tempo para a tarefa.  Por ora, apresento um breve roteiro, o bastante para delinear o perfil de um político que aliava a índole reacionária à incoerência e a um feroz oportunismo.  

Agosto de 1953- Carlos Lacerda publica n'A Tribuna da Imprensa um documento falso para denegrir João Goulart, então ministro do Trabalho:

A Tribuna da Imprensa acusava-o ora de corrupção ora de aliar-se aos comunistas, o que muitos candidatos da UDN também fizeram sem que ninguém por isto os criticasse.  E Lacerda chegou ao ponto de divulgar uma carta falsa, atribuída ao deputado argentino Antonio Brandi, procurando comprometer Goulart com um suposto plano de "coordenação sindical entre o Brasil e a Argentina", criação de "brigadas operárias de choque" e contrabando de material bélico pela fronteira de Uruguaiana.  O inquérito realizado pelo general Emílio Maurell Filho concluiu que a carta era "incontestavelmente falsa", forjada por dois falsários argentino, conhecidos como Mestre Cordero e Malfussi, conforme depois se comprovaria.  E não seria demais supor que a CIA também estivesse envolvida no caso.  Joaquim Miguel Vieira Ferreira, secretário-geral da Cruzada Brasileira Anticomunista e agente do Serviço de Informações da Marinha, vangloriou-se certa vez de ter inspirado a famosa Carta Brandi.  Esse homem, conhecido pelo pseudônimo de Victor, recebia Cr$ 300.000,00 do serviço secreto norte-americano e, em 1958, falsificaria outros documentos, como um acordo do PTB com os comunistas e um memorial de militares, reclamando a renúncia de Kubitschek e Goulart, bem como a paralisação das obras de Brasília. (BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz.  O governo João Goulart: as lutas sociais no Brasil, 1961-1964.  Rio de Janeiro: Revan; Brasília: UnB, 2001, p. 58)  




24 de agosto de 1954- Carlos Lacerda festeja uma suposta renúncia de Getúlio Vargas para depois simular consternação com o suicídio do presidente: 

Ainda no dia 24 de agosto, O Dia, em edição extra, precipitadamente anunciava que Getúlio Vargas havia renunciado.  Na primeira página, sob o título "Calma na Cidade", dizia:

"O desfecho da crise não surpreendeu o carioca, que, desde as últimas horas de ontem aguardava, com impaciência, a renúncia do chefe da Nação.  Absoluta calma em todos os setores da cidade, que despertou sem ter notado a mais leve alteração em sua habitual fisionomia.  Apenas mais policiamento nos edifícios públicos e um movimento um tanto fora do comum na órbita do Catete."

Carlos Lacerda, logo ao saber da renúncia do presidente às 4 horas da madrugada, dirigiu-se à residência do sr. Café Filho e, muito sorridente e caloroso, cumprimentou-o efusivamente.

                                                          (...)

Os jornais também recuaram diante dos acontecimentos.  A Tribuna da Imprensa, ainda no dia 24, declarava na primeira página: "Seu sacrifício serve de lição e advertência.  Paz à alma de Getúlio Vargas.  E paz, na terra, ao Brasil e ao seu atribulado povo".
Carlos Lacerda, na mesma página, dizia:
"Inclino-me diante do corpo do Presidente e imploro à misericórdia de Deus perdão para o seu gesto de desespero.  (...) Com seu suicídio, Getúlio Vargas repudiou os mandantes do crime, que agora se escondem na emoção de sua morte (...).  Traíram-no os falsos amigos.

( FERREIRA, Jorge.  O carnaval da tristeza: os motins urbanos do 24 de agosto.  In: Vargas e a crise dos anos 50/Angela de Castro Gomes [org.],  Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994, pp. 93/94)


Novembro de 1955- O general Henrique Lott, para assegurar a posse do presidente eleito, Juscelino Kubitschek, depõe o presidente interino, Carlos Luz.  Carlos Lacerda se esconde em um navio da Marinha e depois na embaixada da Cuba de Fulgencio Batista:

O que importa ressaltar é que, do ponto de vista militar, o golpe foi um sucesso.  O Rio de Janeiro ficou inteiramente sob controle e os comandos de Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná enviaram tropas para São Paulo, onde se esperava uma reação, devido à partida do Brigadeiro Eduardo Gomes, entrincheirado em Cumbica com 40 aviões da FAB.  Mas o governador Jânio Quadros permanece indiferente e o General Falconiere aí assume o comando pró-legalidade.  Frustra-se a reação de Carlos Luz que, em companhia de alguns ministros, vários oficiais e políticos como Carlos Lacerda (que mais tarde se refugiaria na embaixada de Cuba) embarca no Cruzador Tamandaré, na esperança de um desembarque vitorioso em Santos. (BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita.  A UDN e o udenismo.  Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981, pp. 98/99) 


Carlos Lacerda, em suas memórias, admite que a postura de seu partido, a UDN, de negar a legitimidade da eleição de Juscelino e Jango, em 1955, com o argumento de que a chapa não obteve maioria absoluta, foi uma tentativa fracassada de enganar o eleitorado:

A maioria absoluta, defendida principalmente pela "Banda de Música" e seu principal orador, Aliomar Baleeiro, não teve a mesma repercussão que em 1950, quando da eleição de Getúlio Vargas.  O desgaste do recurso era inevitável, como reconheceria Carlos Lacerda em suas memórias: "vamos dizer a verdade, o povo sentiu que era uma manobra em cima da eleição, para mudar as regras do jogo, depois do jogo começado.  E, evidentemente, não pegou" (1978, p. 102).  (A UDN e o udenismo, p. 97)  

1961- O corvo se junta aos porcos:

Anteriormente, ocorreu o episódio em que o embaixador dos Estados Unidos, Moors Cabot, fora ao palácio entrevistar-se com Jânio para protestar contra a política externa independente de seu governo.  Como a conversa ficara ríspida, Jânio levantou-se e ordenou que o embaixador se retirasse.  O presidente John Kennedy enviara seu emissário especial, Adolf Berle Jr., para sondar sobre possível invasão a Cuba com forças internacionais das quais o Brasil participaria.  Recebeu forte negativa de Jânio.  Mais tarde, essa invasão se daria pela baía dos Porcos, rechaçada por Fidel.  O governador da Guanabara, Carlos Lacerda, saúda a invasão e recebe muitos anticastristas no Rio.  
(BARBOSA, Vivaldo.  A Rebelião da Legalidade: documentos, pronunciamentos,noticiário, comentários.  Rio de Janeiro: FGV, 2002, p. 17)  


Agosto de 1961- Renunciando Jânio, Lacerda é figura de proa nas articulações golpistas para impedir a posse do vice João Goulart, prevista pela Constituição:

Enquanto Ranieri Mazzilli desenvolve essas articulações, os ministros militares, por seu lado, tomaram providências na área militar e procuraram contatos políticos.  Não encontram grande ressonância no Congresso, apenas o respaldo de alguns deputados e senadores que com eles passaram a manter contatos frequentes, embora raramente utilizem a tribuna para demonstrar alinhamento com o golpe.  Só encontram mesmo um eco forte: o governador Carlos Lacerda, da Guanabara, estado em que foi transformada a cidade do Rio de Janeiro, antigo Distrito Federal, por ocasião da mudança da capital para Brasília, em 1961, feita pelo presidente Juscelino Kubitschek.  Esse engajamento do governador Carlos Lacerda ficou evidenciado pelas articulações e contatos que desenvolveu junto à direita no setor político e na área militar, pela forte repressão que desencadeou às manifestações populares que aconteciam no Rio, talvez as maiores no país depois de Porto Alegre, como parte da Rebelião da Legalidade, e pela censura a rádios, jornais e à incipiente televisão.  Machado Lopes assim descreve a forte participação de Lacerda no golpe:

Na Guanabara, o governador Carlos Lacerda reunia em palácio alguns governadores filiados à UDN e políticos influentes do mesmo partido, e propunha lançar um manifesto à nação, com teor que podia ser assim resumido:

1- impedir a posse do sr. João Goulart na presidência da República;
2- apoio incondicional à ação dos três ministros militares;    
3-eleição indireta, pelo Congresso Nacional, do sr. Juracy Magalhães para a presidência da República

(A Rebelião da Legalidade,, pp. 93/94)

Outubro de 1962- Durante a Crise dos Mísseis em Cuba, Lacerda ordena repressão selvagem aos manifestantes anti-EUA:

Houve comícios em todo o país, realizados pelos sindicatos e associações estudantis.  As manifestações evidenciaram, pelo seu vigor, o acirramento do antiamericanismo.  Alguns dirigentes comunistas, que tentavam conter a exaltação dos ânimos, nem sempre alcançaram êxito.  E, no Rio de Janeiro, os líderes do CGT, moderados, não conseguiram evitar que uma concentração de massas, em frente da antiga Câmara dos Deputados, se convertesse em passeata de protesto e marchasse contra a Embaixada dos EUA, tendo que enfrentar bombas de gás lacrimogêneo, jatos d'água e outras violências da polícia do governo Lacerda. (O governo João Goulart, p. 91)


1964- Carlos Lacerda forma com a linha dura do golpismo e clama por mais cassações:

Carlos Lacerda opunha-se às iniciativas do presidente Castello Branco quanto à antecipação da Constituinte Nacional, e, sobretudo, quanto à prorrogação do mandato.  Esta prorrogação se daria através de uma emenda, dos senadores udenistas João Agripino e Afonso Arinos, vista por Lacerda como "um instrumento contra sua vitória certa nas eleições de 65".  A verdade é que Lacerda se aproximara da "linha dura", anti-Castello, e passara a contar com a oposição dos setores mais liberais dentro da própria UDN, como Afonso Arinos, João Agripino, Milton Campos e Daniel Krieger, para quem Lacerda, se eleito, "seria um ditador" (cit. por Viana Filho, 1975, p. 103).  Em dezembro de 1964, por exemplo, Lacerda chega a pedir o expurgo do Supremo Tribunal Federal e a continuação do Ato primeiro, "contra o legalismo de Castello Branco (Carlos Castello Branco, 1977, p. 169).  (A UDN e o udenismo, pp. 130/131)    


1966/1967- Frustrado em suas pretensões de ser conduzido à Presidência da República pela ditadura, Lacerda busca o apoio dos que sempre ofendeu e repudiou:

A radicalização e o aguçamento do autoritarismo militar, com a decretação do Ato Institucional n. 2, terminaram por desintegrar a frente política que apoiara o golpe de Estado em 1964.  Carlos Lacerda, cuja ambição consistia em suceder Castelo Branco na Presidência da República, frustrou-se, ao ver que o caminho para realizá-la se lhe fechara, primeiro com a prorrogação do mandato de Castelo Branco até 15 de março de 1967 e, em seguida, com a virtual escolha do marechal Artur da Costa e Silva, ministro da Guerra, para sucedê-lo no governo, a partir de 15 de março de 1967.  Como o jornalista Carlos Heitor Cony observou, Lacerda "ficara no vácuo, na posse de direitos políticos que não lhe davam direito nem à política (que deixara de haver em seu escalão civil) nem a mais nada, a não ser ruminar a frustração de não ser aquilo que podia ter sido".  E, em tais circunstâncias, ele rompeu com Castelo Branco, de quem disse ser "mais feio por dentro do que por fora", debandou para a oposição, com o propósito de conquistar-lhe a liderança, e passou a atacar violentamente o regime militar, ao mesmo tempo em que tratava de compor uma Frente Ampla com seus antigos adversários, Kubitschek e Goulart, bem como com Brizola e Miguel Arraes, o ex-governador de Pernambuco, e até os comunistas, visando à redemocratização do Brasil.  (O governo João Goulart, p. 191)   




11 comentários:

  1. Militante comunista na juventude, Lacerda bandeou-se para o outro lado - apenas mais um exemplo entre tantos, como Dom Helder Câmara, Olavo de Carvalho, Reynaldo Azevedo, Paulo Francis, e o próprio Benito Mussolini. O que só vem a confirmar aquilo que eu sempre apontei aqui: fascismo e socialismo não são opostos, mas derivam do mesmo tronco e guardam entre si um evidente parentesco, daí que seus simpatizantes troquem de lado com tanta desenvoltura. O verdadeiro oposto do socialismo não é o fascismo, mas o liberalismo (ou neoliberalismo, como queiram). Carlos Lacerda tinha um lado liberal, sem dúvida. Mas hoje em dia é mais lembrado pelo seu lado revolucionário, traço herdado sem dúvida de sua impetuosidade juvenil, e que o levou a conspirar seguidamente contra vários governantes constitucionais, falhando sempre, triste e patético como um vilão de história em quadrinhos. Merecido castigo! O verdadeiro conservador nunca é golpista, pois golpe é ruptura, e o conservador, por definição, é aquele que deseja conservar as estruturas existentes.

    Mas vou aproveitar para falar do outro lado de Lacerda - o político defensor do liberalismo econômico que se tornou ídolo da classe média conservadora. Foi um fenômeno bem peculiar, sem dúvida, pois é sabido que no Brasil a classe média é minoritária e não decide eleição, e por isso mesmo, quase não existem aqui políticos especializados em defender a classe média. Mas Carlos Lacerda elegeu-se governador de um estado muito peculiar - o antigo Estado da Guanabara, ex-distrito federal, que como praticamente só abrangia a área urbana da antiga capital federal, tornou-se o único estado da união onde a classe média era maioria (hoje em dia o atual distrito federal também é, pelas estatísticas, a unidade da federação de PIB per capita mais alto, mais até do que SP, mas isso não quer dizer muita coisa, pois o distrito federal compreende quase que só a cidade de Brasília).

    (Continua)

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    1. Lacerda representou o mesmo papel que Hitler ou qualquer líder radical anti-comunista: um defensor do povo contra o perigo da ditadura comunista. Só isso. Repito: só isso. Todo o seu desempenho está no âmbito da polêmica e do ódio. Só nesse campo ele prosperava. Toda a sua energia era voltada para isso. Ele era uma farsa. Não representava uma aspiração legítima. Era a voz do medo.

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  2. (continuação)


    Então, Carlos Lacerda tornou-se essa avis rara - um líder e porta-voz eleito pela classe média conservadora. E contando suas realizações, é inacreditável: ele fez, ou planejou, praticamente tudo de relevante em toda a história da cidade do Rio de Janeiro! Veja só:

    - A adutora do Guandu (acabou-se aquela história de faltar água e luz);

    - O aterro do Flamengo;

    - O túnel Santa Bárbara;

    - O túnel Rebouças (iniciou as obras);

    Acrescente-se a Linha Vermelha e a Linha Amarela, que foram planejadas em seu governo e mais tarde construídas no exato traçado que ele projetou, e inclusive foi ele que lhes deu esses nomes, por haverem sido traçadas no mapa com canetas destas cores. Minha mãe, professora aposentada do estado, é grata a ele por haver aberto concurso para professores - antes dele só entrava quem tinha pistolão. Ela entrou ganhando mais do que ganhava como professora de escola particular. E acrescente-se também que no tempo dele não se via essa quantidade de escândalos - o pior de sua gestão foi o escândalo do mata-mendigos, lamentável sem dúvida, mas que não pode ser considerado responsabilidade direta dele.

    Em termos de competência administrativa e respeito pelo dinheiro público, a diferença entre um governante sustentado pela classe média e um governante populista é abissal - os fatos falam por si. Notem também que Lacerda fez isso tudo estando o governo federal nas mãos de inimigos declarados, e por certo não houve boa vontade do governo em conceder verbas. Se ainda assim ele conseguiu dinheiro para fazer as obras que fez, é necessário concluir que seu governo era mais competente e roubava menos. Depois do fim do Estado da Guanabara, nunca mais houve um governador devotado à classe média. Comparem as realizações de Lacerda com as realizações dos governadores populistas que o sucederam, sobretudo após Leonel Brizola!

    Não nego que Lacerda tivesse defeitos. Ele próprio reconhecia isso: uma ocasião, após discutir com o então deputado Amaral Neto, perdeu a paciência e bradou: mas você consegue ter ao mesmo tempo todos os meus defeitos e nenhuma das minhas qualidades! Pois é, o problema de Lacerda era que seus defeitos eram fáceis de imitar.

    Já suas qualidades...

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  3. Corvo ontem, tucano hoje, falcão sempre.

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  4. Infelizmente para Mundim, muitos fatos escapam aos seus esquemas. Se por um lado o ex-socialista Mussolini, que rompeu com o socialismo por ser partidário da guerra de conquista, migrou em etapas para a extrema direita, muitos liberais italianos também aderiram ao fascismo. Nunca é demais lembrar que o campeão liberal Mises saudou o fascismo como um remédio temporário para a crise europeia, assim como já se alinhara com a direita autoritária austríaca contra a social democracia.
    Bem mais tarde, o ex-militante de esquerda François Furet se tornaria um dos principais historiadores liberais. O mesmo se deu com a maioria dos adeptos do antigo PCB, depois PPS, cujo programa atual poderia ser referendado pelo DEM. Por falar em DEM, também vale recordar que o falecido PFL abrigou, entre outros, Francisco Julião, ex-líder das Ligas Camponesas.
    Quanto à vocação legalista de todos os conservadores, penso que não forma para excluir do campo conservador homens como Francisco Franco e Augusto Pinochet, entre muitos outros golpistas.

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  5. "Nunca é demais lembrar que o campeão liberal Mises saudou o fascismo como um remédio temporário para a crise europeia"


    Tem a fonte ?

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  6. Alexandre, vou ter que procurar o texto integral no mises.org

    Mas temos uma nota de Perry Anderson tocando nos dois temas:

    Não havia defensor mais incondicional do liberalismo clássico [do que Ludwig von Mises] nos países de língua alemã durante os anos 1920. Ainda assim, a cena política austríaca deixava pouco espaço para suas opiniões, dominada que era pelo conflito entre a esquerda socialdemocrata e a direita clerical. Nesse caso Mises não hesitou. Na luta contra o movimento operário, talvez houvesse necessidade de um governo autoritário. Afinal, do outro lado da fronteira, eram evidentes as virtudes de Mussolini: os camisas-pretas tinham, pelo menos provisoriamente, resgatado para a civilização européia o princípio da propriedade privada- “o mérito que o fascismo assim conquistou viverá para sempre na história”. Conselheiro do Monsenhor Seipel, o prelado que administrou o país no final da década de 1920, Mises aprovou quando Dollfuss esmagou o trabalhismo austríaco durante a década seguinte, lançando a culpa pela repressão de 1934, que instalou seu regime clerical, na loucura dos socialdemocratas que contestaram a aliança com a Itália. (ANDERSON, Perry. Afinidades seletivas. São Paulo: Boitempo, 2002, p. 329)

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  7. Encontrei uma citação no blog do Rodrigo Constantino:

    "Não se pode negar que o fascismo e movimentos semelhantes, visando o estabelecimento de ditaduras, estejam cheios das melhores intenções e que suas intervenções, (...), SALVOU a civilização européia. O MÉRITO que, por isso, o fascismo obteve para si estará inscrito na história."
    (MISES, Ludwig von. Liberalismo, p.53. Livraria José Olympio Editora S.A. Instituto Liberal. Rio de Janeiro, 1987)

    Já tive esse livro em mãos e posso dizer que são muitas as citações hediondas.

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  8. Como carioca que cresceu no governo Lacerda, e de posse de minha memória grata; não tenho dúvida que temos uma dívida de gratidão, talvez não por sua personalidade, mas comcerteza por sua obra. Deviámos ostentar em nossas camisetas a foto do maior carioca, em vez de ostentar-mos fotos de um assassino, dito revolucionário; Guevara! Atualmente com 71 anos, morador em uma pacata cidade do interior paulista há 40 anos, tenho orgulho e gratidão a este grande carioca. Pena que os sem lembranças esqueceram o que não deve sere esquecido! O brigado pela paciência.

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  9. Ha quem diga que Olavo de Carvalho é um cientista politico.

    Quanta besteira

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  10. Para mim Lacerda foi um verdadeiro inocente útil para os interesses dos Estados Unidos. Conspirou contra Vargas, Juscelino e Jango. Depois, recebeu o troco da Ditadura, a sua Cassação. Estou vendo esse "filme" de novo.

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