domingo, 28 de abril de 2013

Mais um pouco sobre lepenistas, olavetes e mainardetes

Cartaz da extrema direita francesa pondo em destaque fala do conservador Charles de Gaulle sobre a suposta necessidade de restringir os não brancos à condição de pequena minoria no território da França.  
         

         Fui acusado por alguns críticos, a partir dos dados expostos na matéria anterior, de explorar coincidências pontuais entre o discurso fascistófilo de matriz europeia e citações avulsas de conservadores do Brasil para tentar marcar toda a direita com o rótulo de fascista.  Um texto de blog, apesar de certas vantagens no que diz respeito à rapidez de comunicação e ao livre acesso de todos os interessados, também sofre limitações, entre elas a inconveniência de elaborar exposições muito longas.  Pois bem: para confirmar que as semelhanças apontadas nada têm de acidentais, e que a extrema direita francesa, herdeira de não poucas bandeiras do fascismo, possui alto grau de afinidade com os direitistas brasileiros, dobro o número de amostras, retornando ao link que apresenta o programa do Front National.                    
         Um dos fatores que sustentaram o crescimento eleitoral do lepenismo foi, sem dúvida, a instrumentalização da islamofobia.  Naturalmente, a presença de milhões de muçulmanos na França serve, na agenda do Front, como justificativa para uma espécie de cruzada em defesa da "identidade nacional".       

http://www.frontnational.com/le-projet-de-marine-le-pen/

     
    Não deixo de sentir um ligeiro estranhamento, porém, ao ver dois brasileiros, colaboradores eventuais do site Mídia sem Máscara, preocupadíssimos com o aumento da população muçulmana ... da Bélgica!  Um incauto que tenha ignorado os jornais dos últimos dez anos pode ser levado, depois de ler o artigo na íntegra, a acreditar que o pequeno reino europeu está prestes a se tornar uma república teocrática sunita. 

http://www.midiasemmascara.org/artigos/globalismo/13597-a-caminho-do-belgistao.html



           Ainda mais alarmista, o blogueiro José Miguel Delgado, do site Recanto das Letras, faz coro a Diogo Mainardi, para quem só o imperialismo americano pode salvar o mundo de uma subjugação total pelo Islã.  Para piorar, reforça a falsa correspondência entre religião muçulmana e mutilação genital feminina. 

http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/910728



          Como as gradações do delírio se estendem praticamente ao infinito, Heitor de Paola chega ao ponto de exibir um esquema  sobre os métodos empregados pelos "invasores muçulmanos" no sentido de  estabelecer seu domínio sobre o Brasil.  Certamente seremos convencidos em massa de que o xiismo iraniano alcançará grande expressão em nosso país por intermédio do chavismo venezuelano!

http://www.heitordepaola.com.br/publicacoes_materia.asp?id_artigo=3167



          O programa do Front National, como é de se esperar, restabelece todo o antigo prestígio da pedagogia tradicional, incluindo a obrigatoriedade do método silábico na alfabetização e um ensino de História que privilegia o elemento factual.     



        "Nossos" conservadores, salvo rara exceção, não apenas concordam com tais diretrizes como elegem seus demônios: os formuladores de políticas educacionais progressistas, marxistas ou alternativas sob qualquer ponto de vista. Bruno Pontes, por exemplo, praticamente indica Paulo Freire como o pai do analfabetismo brasileiro, aproveitando para informar aos leigos que os pedagogos de direita foram extintos no país!  

http://www.midiasemmascara.org/artigos/educacao/12087-o-mal-que-os-doutor-do-mec-faz.html


         Um pouco mais moderno na escolha de seus antípodas, Reinaldo Azevedo volta as baterias contra Marcos Bagno.  Ficamos agora sabendo, em passagem que encheria Ali Kamel de orgulho, que nunca houve preconceito contra quem não domina a norma culta da língua! Vivemos na pátria da tolerância e a maioria ignora até hoje!!! 

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/tag/marcos-bagno/



          José Maria e Silva identifica no prestígio teórico de Paulo Freire o resultado de mais uma conspiração esquerdista levada a cabo com patrocínios alienígenas.  No melhor estilo reacionário desprevenido, insinua que os estilos de vida dos ambientes populares nada têm a acrescentar à cultura brasileira.  Que joguemos no lixo, talvez, O cortiço e Viva o povo brasileiro...    

http://www.midiasemmascara.org/artigos/educacao/13652-autoajuda-marxista.html



           Coerentes em sua perspectiva racista e etnocêntrica, os lepenistas se mostram adversários ferrenhos da imigração e do direito de asilo.  Para eles, somente devem ser admitidos como residentes na França uns poucos indivíduos talentosos.  


         Ratificando as "razões" dos movimentos xenófobos europeus, o filósofo direitista Luiz Felipe Pondé cria uma definição bizarra da figura do imigrante pobre: alguém que sai de seu país para viver às custas dos cidadãos de outros países.  Quase gargalho ao notar que Pondé aparentemente se exclui do que chama de radicalismo de direita.  



        O fanático Julio Severo, radicado nos Estados Unidos, considera os imigrantes do Terceiro Mundo, não só muçulmanos, mas inclusive latino-americanos pobres, uma ameaça aos valores morais da América.  Quase não há diferença para as teses do Front National, salvo a orientação laicista do partido francês.    

http://juliosevero.blogspot.com.br/2012/11/eua-cristaos-conservadores-e.html

          
                                                                 (...)



      Excursiono brevemente pelo site do movimento separatista (e reacionaríssimo) São Paulo para os Paulistas.  Sem qualquer surpresa, vejo que seus adeptos, nada sutis, tratam como estrangeiros indesejáveis até migrantes internos.  Com alguma surpresa, descubro que a sofisticada Fundação Getúlio Vargas ocupa espaço publicitário naquela página.

http://tudoporsaopaulo2010.blogspot.com.br/



           Já declarei que não espero obter confissões de fascismo neste espaço.  Todavia, sempre é oportuno lembrar aos vários tipos de direitistas, sobretudo os que se escoram na retórica da liberdade, o que pensa a média (eventualmente a maioria) de seus correligionários.             
         

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