quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O que realmente enfurece a direita

Curso pré-vestibular gratuito em Montes Claros (MG) 

                    
       A oposição de direita ao governo Dilma, do mais refinado liberal ao mais truculento saudosista de 1964, é relativamente coesa no teor das críticas que seus integrantes fazem à coalizão no poder.  A ampliação dos programas de distribuição de renda é apontada como estímulo ao parasitismo dos mais pobres.  A concessão de zonas aráveis a agricultores sem terra, índios e/ou quilombolas torna-se o prenúncio demagógico da falência da lavoura de exportação e do alastramento, a médio prazo, da fome pelo território brasileiro.  As mais tímidas iniciativas de defesa dos Direitos Humanos das classes C, D e E e da população encarcerada, ou contra práticas de tortura e extermínio por parte do aparato repressivo oficial, são associadas ao aumento da criminalidade e à desproteção dos segmentos proprietários, sempre com o auxílio das estatísticas estaduais mais favoráveis à tese.  O esboço de uma política externa independente é classificado como aliança com nações párias, quando não com o terrorismo.  Sobretudo, identifica-se vulgarmente os anos a partir de 2003 como o período mais corrupto da história do Brasil, sem que haja a preocupação de se estabelecer os critérios utilizados na comparação.
           Não é preciso refletir muito para encontrar as hipocrisias e incoerências do discurso.  Os conservadores que apedrejam o Bolsa-Família lamentavam, em passado relativamente próximo, a "invasão" maciça de retirantes em suas cidades e estados.  A "vanguarda do agronegócio", enquanto apregoa a modernidade econômica e o domínio de tecnologias avançadas, mantém o mesmo projeto dos antigos senhores de engenho e cafeicultores escravistas de expansão da produção pela incorporação constante de novas terras; o argumento pueril de que faltará comida no futuro se suas reivindicações não forem atendidas desmorona pela mera constatação de que a população brasileira está parando de crescer. Os adeptos da Solução Carandiru e da Gratificação Faroeste preferem ignorar que consecutivas políticas de matança tiveram como resultados essenciais a desconfiança generalizada do povo em relação aos órgãos de segurança e a construção da imagem externa de um país incivilizado. A "defesa da democracia" empreendida pelos direitistas não raro se faz acompanhar pela apologia da última ditadura (ou pela minimização de suas mazelas), passando ao largo do julgamento dos laços do governo autoritário brasileiro com aliados como Pinochet e Videla e com os agentes extra-oficiais das guerras sujas contrarrevolucionárias.  São desprezados no quesito corrupção, como atos amadores de delinquência, as numerosas privatarias dos mandatos de FHC e os eventos sempre impunes e mal investigados do regime civil-militar: Globo- Time Life, superfaturamento da Transamazônica, Lutfalla, Polonetas, Capemi, Escândalo da Mandioca, Coroa Brastel...   
            Sou levado a crer, portanto, que a direita detesta o governo atual e a herança lulista menos por seus defeitos do que pelo que pode apresentar como realização: a redução das desigualdades.  Nisto, aliás, alguns extremistas raivosos não hesitam em estender seu ódio ao próprio Fernando Henrique, visto como introdutor de projetos "socialistas".  Nesta semana, tivemos notícias [ver link abaixo] que, se ainda não estimulam comemorações, pelo menos nos permitem conceber que dentro de algumas décadas se instale no Brasil um nível "português" ou "uruguaio" de (des)equilíbrio social.  Finalmente, o país aparenta estar deixando para trás os tempos em que disputava com Honduras, Serra Leoa e Botswana a copa da pior distribuição de renda do planeta.                  


http://ne10.uol.com.br/canal/cotidiano/economia/noticia/2012/11/28/pais-atinge-em-2011-menor-desigualdade-em-30-anos-383723.php

 
         Presumo com boa dose de convicção que a indignação conservadora, em especial quando vinda da pequena burguesia, se relaciona à impressão de perda de status e da influência que esta última tradicionalmente exercia, até em termos eleitorais, sobre as classes populares.  A direita brasileira ainda parece sonhar com mão de obra semigratuita e submissa, com um mundo em que cada gerente de banco, chefe de repartição pública ou dono de mercearia se sinta como um nobre medieval pronto a distribuir ou negar dádivas aos miseráveis que o rodeiam, conforme o grau de resignação. Aos governos reformistas, que entre diversas contradições permitem pequenos aumentos, porém constantes, da massa salarial dos trabalhadores de escolaridade média e fundamental (ou menor), fica reservado um bizarro rótulo: engenheiros sociais!!!              


















             Não tripudio sobre o cadáver do adversário: os projetos direitistas de sociedade ainda se aproximam, muito mais do que o "meu", da realidade brasileira, como verificamos por outras estatísticas publicadas na matéria:     



            Mesmo diante da exposição destas verdadeiras vergonhas nacionais, a direita, como de costume, clama por mais desigualdade.  Clama por um Brasil em que as mulheres nunca recebam mais do que três quartos dos salários masculinos.  Por um Brasil em que os não brancos nunca ganhem mais do que três quintos dos rendimentos dos brancos.  Por um Brasil em que o arquiteto receba trinta vezes mais do que o mestre de obras.  Afastemo-la do poder, por no mínimo quinhentos anos!
                   




Nenhum comentário:

Postar um comentário