quinta-feira, 27 de junho de 2013

Pelo fim do transporte privado


       Creio que nenhum brasileiro ignora a calamitosa situação do transporte de massa no país, nisto incluídos os que jamais precisaram dele.  Todos, ou quase, também já perceberam que o poder econômico e político dos empresários do transporte, em particular dos donos das companhias de ônibus, é inversamente proporcional à qualidade dos serviços que prestam à população.  Quando vi as paredes da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro pichadas e seus vidros quebrados por manifestantes, no calor dos confrontos verificados em 17 de junho último, certas reflexões se impuseram a mim, habitante do estado há 45 anos.  Qualquer carioca ou fluminense que tenha acompanhado a política regional no decorrer das últimas décadas, mesmo que com interesse limitado, sabe que uma das principais influências entre os deputados da ALERJ, senão a maior, é a da poderosa FETRANSPOR (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro), entidade que agrega diversos sindicatos patronais. 
     Não afirmarei que a multidão que investiu contra aquela Casa agiu sob a motivação direta de traduzir em prejuízos materiais  sua insatisfação específica com o lobby da FETRANSPOR.  A ALERJ frequentemente é apontada, em pesquisas formais e nas conversas de rua, como uma das instituições de menor credibilidade do estado.  Todavia, não se pode negar o forte simbolismo contido no ataque: um movimento que teve como estopim o aumento dos preços das passagens concentrou boa parte de suas forças, naquele dia, no ataque ao local de reunião de parlamentares que, com raras exceções, são vistos pela opinião pública como elementos submissos aos empresários de ônibus; quiçá, em alguns casos, seus sócios minoritários.  
      A mídia burguesa por vezes traz a público certas deficiências do setor, mas de maneira pontual, como se lidasse com exceções.  Temos, entretanto, outra percepção quando nos lançamos a uma busca livre na Internet;  torna-se claro, então, que as mazelas visualizadas no cotidiano não são "privilégio" de nenhum bairro, município ou região.  As reportagens que recortei e exponho abaixo, retiradas de blogs de variados gêneros e páginas eletrônicas de revistas mais ou menos conhecidas, constituem uma minúscula amostra entre milhares, possivelmente milhões de queixas, não raro comprovadas por fotografias, filmagens e até documentos oficiais, relacionadas aos eternos abusos das empresas de ônibus.    
 
.Frota em mau estado de conservação






.Sujeira e falta de segurança



.Superlotação e desconforto





.Tarifas extorsivas




.Atrasos e ausência de carros nos horários pouco lucrativos ou deficitários




.Desrespeito sistemático à legislação







.Opressão brutal da força de trabalho




            Sempre cínicos, "nossos" economistas e publicistas liberais não se atrevem a dizer que o sistema funciona bem.  Destruiriam assim suas reputações em uma só lição, sem mestre.  Preferem repetir o argumento falacioso de que tudo se resolveria por meio de uma fórmula mágica chamada "concorrência".  Incorrem em pelo menos dois equívocos: em primeiro lugar, existe concorrência, ainda que espúria.  Não tenho dúvida de que, se protegidos pelo anonimato, inúmeros moradores de periferias e cidades do interior nos ofereceriam relatos ricos em detalhes sobre episódios em que grandes empresas exerceram pressão sobre câmaras municipais no sentido de prevalecer sobre as menores na disputa por determinadas linhas. Em segundo, mesmo que em cenário hipotético uma companhia demonstrasse a agentes públicos incorruptíveis seu potencial de disponibilizar um serviço quase perfeito com tarifas iguais ou inferiores às das rivais, receberia em seguida, como ocorre atualmente, um monopólio.  Nada  obrigaria o concessionário a sustentar a qualidade apresentada de início, e os vastos recursos proporcionados pela margem de lucro elevada que caracteriza o setor contribuiriam, tal como hoje, para amortecer as eventuais resistências e reclamações.
         O transporte sob controle de capitalistas é um desastre em todos os quesitos.  Estatizemos tudo, não para entregar esta atividade tão essencial à qualidade de vida da população aos políticos fisiológicos que costumam infestar nossas municipalidades, mas colocando-a sob gestão profissional e submetida à fiscalização ininterrupta das organizações populares!                



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