Verificamos, pelas fontes apresentadas na postagem de ontem, o apoio decisivo dos latifundiários italianos, seguidos por muitos industriais, ao movimento fascista. Agora examinaremos o comportamento das demais forças conservadoras. Emilio Gentile, professor de História Contemporânea da Universidade La Sapienza, em Roma, demonstra que o fascismo, consolidado enquanto movimento de massa entre 1920 e 1921, contava com a adesão de numerosos agricultores desejosos de ascender à condição de proprietários, mas enfrentava forte resistência em sua penetração nos meios operários. O autor confirma ainda que os adeptos de Mussolini haviam sido sustentados pela "burguesia agrária"¹.
A rápida expansão do fascismo esteve associada a uma "mobilização das classes médias", que cresciam percentualmente no conjunto da sociedade italiana; em particular, o segmento composto pelos novos proprietários rurais.
Também pertenciam à classe média, em sua maior parte, as lideranças fascistas, que deram ao partido as feições do que Gentile definiu como "instrumento da reação antiproletária².
Apesar da notória violência que os caracterizava, os fascistas, em 1922, não possuíam os meios necessários para a tomada do poder, caso os conservadores de tipo tradicional pretendessem resistir. O quadro que Robert Paxton traça sobre o início da Marcha sobre Roma aponta para a iminência de um completo fracasso.
Entretanto, a monarquia italiana, na pessoa do rei Vítor Emanuel III, favoreceu amplamente Mussolini, quando contava com a opção, à direita, de patrocinar a ascensão de um gabinete chefiado por Antonio Salandra (1853-1931), reprimindo os Camisas Negras. O monarca cedeu à intimidação dos fascistas oferecendo-lhes o governo.
Segundo Paxton, além de priorizar a manutenção do trono, Vítor Emanuel III provavelmente evitou testar a lealdade de suas próprias tropas contra a turba golpista³.
A mesma tolerância para com o fascismo contagiou o setor que hoje chamaríamos de mídia burguesa. O Corriere dela sera, principal jornal da Itália, hostil ao primeiro-ministro liberal "pacifista" Giovanni Giolitti (1842-1928), ao invés de condenar as agressões e assassinatos cometidos pelos Camisas Negras a partir de 1919, preferia destacar a tendência anticomunista do movimento.
Enquanto os fascistas se multiplicavam, Luigi Albertini (1871-1941), editor do Corriere, culpava seguidamente os socialistas pelos confrontos que se sucediam. Ele ansiava por um "governo forte", no que seria atendido para mais tarde se arrepender4.
Com a implantação da ditadura de Mussolini, o Corriere acabou sendo fechado. Mesmo assim, Albertini continuava a admitir, tal como o economista Von Mises, o mérito do fascismo de ter afastado a hipótese de uma Itália socialista, apenas questionando a necessidade do estabelecimento de um governo tão brutal5.
Uma vez no poder, Mussolini se mostrou compreensivo também diante dos banqueiros e da Igreja conservadora. Não obstante a gradual remoção das aparências democráticas, o regime rapidamente ganhou a confiança das potências capitalistas e da comunidade financeira. Tendo como perspectiva o restabelecimento da "ordem", era possível inclusive minimizar a importância do jogo eleitoral6.
[continua]
1- Ver Emilio Gentile. Qu'est-ce que le fascisme? Gallimard, 2004, pp. 31/32.
2- Idem, pp. 32/33.
3- Ver Robert O. Paxton. A anatomia do fascismo. São Paulo: Paz e Terra, 2007, pp. 154/155.
4- Ver Donald Sassoon. Mussolini e a ascensão do fascismo. Rio de Janeiro: Agir, 2009, pp. 125/126.
5- Idem, pp. 148/149.
6-Ibidem, pp. 152/153.
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